Todos somos ou seremos vítimas do preconceito etário

Walter Alves • 28 de novembro de 2018

Amamos os mais velhos e esperamos envelhecer, então por que esse interesse pessoal não se traduz em políticas públicas?


Em instituições para cuidados a idosos é possível vê-los sentados em salas de cor neutra em frente a uma TV – que, na maioria das vezes, não é assistida. Uns estão dormindo, outros sedados e alguns cognitivamente debilitados. É difícil lembrar que eles já foram jovens, autônomos e independentes. Mas difícil mesmo é pensar que um dia você poderá estar no lugar deles.


“A equipe de cuidadores não os chama pelos nomes”, diz um visitante de uma destas instituições. Talvez não seja por desrespeito, mas privar alguém de um nome é apenas um exemplo da desumanização inconsciente que ocorre frequentemente no tratamento aos idosos.


Algumas pessoas tomam medidas extremas para evitar este cenário: ingressam na Exit International (organização sem fins lucrativos que defende a legalização da eutanásia voluntária e do suicídio assistido) ou se permitem terminar com suas vidas no momento escolhido.


Por que não conseguimos fazer mais e melhor pelos idosos que precisam de cuidados? Por que nos conformamos com condições que deixam muitos deles entediados, solitários e mal alimentados de uma maneira que nunca toleraríamos para nós mesmos?


Uma causa não aparente pode ser o preconceito que temos contra os idosos: o preconceito etário ou idadismo. Geralmente começa com a linguagem que usamos.


Segundo a escritora Ashton Applewhite, se diminuímos nossa consideração pelos seniores verbalmente, é provável que façamos o mesmo quando estruturamos políticas públicas em defesa destes cidadãos: removemos sua dignidade em generalizações condescendentes tratando-os como vulneráveis e dependentes ao invés de resilientes e independentes.


Até mesmo o termo “os idosos” é problemático para Applewhite: “O que implica um grupo homogêneo, quando nada poderia estar mais longe disto. Prefiro os termos “mais velhos” e “mais jovens”, que são neutros em termos de valor e enfatizam que a idade é um espectro”.


“Não sinto que posso usar “anciãos”, pois isso não faz parte da minha cultura e, além disso, não gosto do modo como isso implica que a idade confere valor ou autoridade. Temos que desistir da falsa visão binária do mundo jovem/antigo”.


Ao contrário de outros preconceitos, como o racismo e o sexismo, que são manifestações de medo do outro, o preconceito de idade é único que se direciona, no futuro, a nós mesmos. “Nenhum preconceito é racional”, diz Applewhite, “mas com o idadismo, nós o internalizamos. Temos sido cúmplices de nossa própria marginalização e isso exigirá conscientização ativa para ser corrigido, assim como o movimento das mulheres”.


“Quando você reconhece isso em si mesmo e então percebe que pode se juntar a outros para efetuar mudanças sociais, isso o radicaliza. O sociólogo da Universidade de Stanford, Doug McAdam, chama isso de liberação cognitiva. O próximo passo é a ação coletiva. As recompensas são reais. Eu ouço regularmente de pessoas que começaram a rejeitar a vergonha que sentem imediatamente aliviados e empoderados”, completa a escritora.


Uma das razões pelo idadismo ser tão incorporado em nossa cultura e de difícil erradicação pode ser o fato de expressar décadas de medo acumulado e profundo.


O consumismo nos pede que “combatamos” o envelhecimento como se fosse uma batalha que pudéssemos vencer. Em nossos corações sabemos que isso é uma mentira. Mantras como “70 é o novo 50” enfatizam a necessidade de sermos vigorosos pelo maior tempo possível, mas não oferecem cenários alternativos para aqueles com doenças degenerativas, perda de cognição ou sofrimento de solidão.


A última fase da vida, para aqueles que podem pagar é comercializada como um “estilo de vida” prometendo comunidades fechadas, onde os residentes jogam cartas e intermináveis ​​partidas de golfe com novas amizades. Para o que não podem pagar, queremos que sejam colocados fora de nossas vistas.


Além de nos dissociamos de suas necessidades, delegando seus destinos a trabalhadores mal pagos. Para os que têm pais em lares de idosos há uma tentativa de conforto com o pensamento de que suas necessidades básicas de segurança e higiene estão sendo atendidas.


Não se pensa, no entanto, como eles passam os dias.

Nos despertamos, quando as manchetes sobre negligência, maus-tratos ou abuso de idosos aparecem na mídia; nosso alarme interno soa e nos perguntamos o que será diferente quando chegar a nossa vez.


Applewhite se entusiasma pelo crescente interesse em iniciativas como habitações intergeracionais e de amigos. Ela está otimista “porque os jovens cresceram em um mundo mais misto e sabem que a diversidade está aqui para ficar e que isso é uma coisa boa. Não é muito pedir a eles que incluam idade na busca por justiça social para todos”.


“Até Hollywood está melhorando; estamos vendo as pessoas mais velhas serem retratadas como mais ativas, positivas e sexualizadas”, diz ela, admitindo que uma comédia como O Estagiário (The Intern), estrelada por Robert De Niro como um viúvo de 70 anos retornando ao trabalho em uma empresa de moda online, abordou questões importantes.


“O local de trabalho é onde a consciência do idadismo está definitivamente em ascensão. Há desafios para a força de trabalho seja de idade mista. Pesquisas mostram que os mais velhos são mais eficazes, especialmente nas indústrias criativas”.

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