Procrastinação e Trabalho em casa: Como cuidar das emoções organizar o seu tempo

Walter Alves • 9 de abril de 2020

 

Procrastinar tem a ver com emoções e não com gerenciamento de tempo


artigo publicado em 2 de abril neste mesmo MaturiBlog abordou a procrastinação e sua mitigação a partir do gerenciamento do tempo. Nesta semana, o assunto continua, mas sob outro ponto de vista.


Tente encontrar os verdadeiros motivos pelos quais procrastina e, assim, é provável que consiga diminuir o angustiante sentimento de estar sempre atrasado.


De acordo com o pensamento tradicional – ainda adotado por centros universitários em todo o mundo, como a Universidade de Manchester, no Reino Unido, e a Universidade de Rochester, nos EUA – a procrastinação é um problema de gerenciamento de tempo.


Neste ponto de vista, o tempo gasto para a realização da tarefa não foi bem avaliado ou a perda de tempo com a distração digital está muito longo. Com melhor programação e diminuição da perda de tempo, a procrastinação acabará.


Há, no entanto, muitos psicólogos contestando esta visão. Especialistas como Tim Pychyl, da Universidade Carleton, no Canadá, e Fuschia Sirois, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, propuseram que a procrastinação é um problema de gerenciamento das emoções, não do tempo.


A tarefa que está sendo adiada, na realidade, nos faz sentir mal – talvez pela chatice, pela dificuldade ou pelo possível fracasso em realiza-la – e para nos sentirmos melhor, momentaneamente, fazemos qualquer outra coisa.


A procrastinação crônica está relacionada à saúde física e mental, desde a depressão e ansiedade até doenças cardiovasculares.


Essa perspectiva sobre a procrastinação abre novas possibilidades para a redução do hábito. “Qualquer tipo de mudança não é uma coisa simples, e segue a velha máxima de dois passos à frente e um passo atrás”, diz Pychyl. “Mas estou confiante que as pessoas podem aprender a não mais procrastinar”.


Melhora do humor a curto prazo


Uma das primeiras pesquisas a propor uma visão emocional da procrastinação foi publicada no início dos anos 2000 por professores da Case Western Reserve University, em Ohio.


Eles primeiro incentivaram as pessoas a se sentirem mal (pedindo que lessem histórias tristes) e mostraram que isso aumentava a tendência a procrastinar, fazendo quebra-cabeças ou jogando videogame, em vez de se preparar para o teste de inteligência que eles sabiam que estava por vir.


Estudos subsequentes da mesma equipe mostraram que o mau humor só aumenta a procrastinação se atividades divertidas estiverem disponíveis como uma distração e, somente, se as pessoas acreditarem que podem mudar de estado de ânimo. 


A procrastinação – que efetivamente distrai a curto prazo – pode levar à culpa, o que acaba agravando o estresse inicial


A visão de regulação emocional da procrastinação também ajuda a explicar alguns fenômenos modernos estranhos, como a moda de assistir a vídeos on-line de gatos que atraíram bilhões de visualizações no YouTube.


Uma pesquisa com milhares de pessoas por Jessica Myrick, da Escola de Mídia da Universidade de Indiana, confirmou a procrastinação como um motivo comum para ver os vídeos dos gatos e que vê-los levou a um aumento do bom humor.


Não é que as pessoas não tenham agendado um horário adequado para assistir aos vídeos; muitas vezes eles estavam apenas assistindo os clipes para se sentirem melhor quando deveriam estar fazendo algo menos divertido.


A pesquisa de Myrick também destacou outro aspecto emocional da procrastinação. Muitos dos entrevistados se sentiram culpados depois de assistirem aos vídeos dos gatos. Isso mostra como a procrastinação é uma estratégia de regulação emocional equivocada. Embora possa trazer alívio de imediato, só armazena problemas para mais tarde. 


Talvez não seja de admirar que a pesquisa de Fuschia Sirois tenha mostrado que a procrastinação crônica – isto é, estar inclinado a procrastinar regularmente a longo prazo – esteja associada a uma série de consequências adversas à saúde mental e física, incluindo ansiedade e depressão, problemas de saúde como resfriados e gripes e condições ainda mais graves, como doenças cardiovasculares.


Os pesquisadores dizem que procrastinar nos faz sentir melhor quando certas tarefas nos enchem de emoções negativas – pela chatice, pela dificuldade ou pelo possível fracasso em realiza-las.


Sirois acredita que a procrastinação produz consequências adversas por duas vias: primeiro, é estressante continuar adiando tarefas importantes e falhando no cumprimento de suas metas; segundo, a procrastinação geralmente envolve adiar ações importantes que impactam na saúde, como fazer exercícios ou visitar o médico. “Com o tempo, sabe-se que o estresse elevado e os maus comportamentos relativos a saúde têm um efeito sinérgico e cumulativo que podem aumentar o risco de enfermidades graves e crônicas, como doenças cardíacas, diabetes, artrite e até mesmo câncer”, diz ela.


Tudo isso significa que superar a procrastinação pode ter um grande impacto positivo na vida. Sirois diz que sua pesquisa sugere que “ao diminuir a tendência de procrastinação crônica em um ponto [numa escala de cinco pontos] também significaria, potencialmente, reduzir em 63% o risco de problemas cardíacos”.


“Apenas comece”


Se a procrastinação é uma questão de regulação emocional, isso oferece pistas importantes sobre como enfrenta-la com mais eficácia. Uma abordagem baseada na Terapia de Aceitação e Compromisso ou Acceptance and Commitment Therapy – ACT, um ramo da Terapia Comportamental Cognitiva, parece especialmente adequada. A ACT ensina os benefícios da ‘flexibilidade psicológica’ – ou seja, ser capaz de tolerar pensamentos e sentimentos desconfortáveis, permanecer no momento presente apesar deles e priorizar escolhas e ações que ajudam a se aproximar do que mais valoriza na vida.


Pesquisas, também, mostram que as pessoas que procrastinam mais tendem a ser mais inflexíveis psicologicamente. Em outras palavras, elas são dominadas por suas reações psicológicas, como frustração e preocupação; as mais inflexíveis concordam com declarações como ‘tenho medo dos meus sentimentos’ e ‘minhas experiências e memórias dolorosas dificultam minha vida’. Aquelas que procrastinam mais, também, obtêm uma pontuações menores em “ações comprometidas”, que descrevem o quanto uma pessoa persiste em ações e comportamentos em busca de seus objetivos. Estas pessoas tendem a concordar com declarações como “se me sinto angustiada ou desanimada, deixo de cumprir meus compromissos”.


A pesquisa mostra que, uma vez que o primeiro passo é dado em direção a uma tarefa, é fácil seguir

Segundo Tim Pychyl, na próxima vez que a tentação da procrastinação se apresentar, “responda: Qual é a próxima ação – uma etapa simples – que terei nessa tarefa se quisesse começar agora?”. Ao fazer isto, ele diz, que a mente deixa de focar os sentimentos e passa a buscar uma ação facilmente executável. “Nossa pesquisa e nossa experiência de vida mostram muito claramente que quando começamos algo sem o peso do fracasso, normalmente damos continuidade. Começar é tudo”.

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