Pós-carreira: A importância de encontrar um estilo de vida

Renato Bernhoeft • 31 de agosto de 2018

A sociedade em que vivemos valoriza o adulto muito especialmente por fatores ligados à sua capacidade de produção. Podemos até dizer que o processo de auto-estima do indivíduo pressupõe a sensação de que realiza bem o seu trabalho e se realiza através dele.


Esta forte ênfase nos valores relacionados com a produção constitui uma das razões pelas quais grande parte das pessoas na fase adulta temem o estágio do pós-carreira (aposentadoria).


Conforme já foi possível observar, todo nosso processo educacional e cultural está muito baseado nas duas primeiras fases da vida (preparação para o trabalho/trabalho). As pessoas passam boa parte de sua infância, adolescência e juventude preparando-se para ingressar no mercado de trabalho. Na fase adulta, a vida de muitas pessoas resume-se a uma acentuada importância e dedicação ao trabalho.


Com base em estudos que tenho feito com inúmeros grupos de executivos no Brasil, é possível observar de que entre 55 e 60% do tempo disponível de uma semana do executivo é destinado ao papel profissional.

Além deste fato, seus outros papéis (conjugal, familiar, social, educacional e recreacional) estão muito contaminados pelo papel profissional.


O conjunto de todos estes fatores contribui, de maneira significativa no sentido de dificultar a transição de “elemento produtivo” na comunidade, para a aposentadoria. Esta é uma das mudanças mais dolorosas na vida de muitos dos adultos em nossa sociedade.


A principal dificuldade de uma pessoa no processo de transição para a aposentadoria é conseguir uma “sensação” de integração social e preservar a realização pessoal.


Mas este processo exige uma prolongada fase de re-educação para o desvio de atenção no sentido de conciliar seu tempo, anteriormente destinado exclusivamente para atividades “produtivas”, com uma destinação para tarefas que a sociedade como um todo caracteriza como “improdutivas”.


O paradoxal desta situação é de que muitos indivíduos passaram boa parte da sua “meia idade” fazendo planos para aposentadoria, considerando-a como uma fase da vida genuinamente livre, pessoal e autônoma.


Ocorre no entanto de que toda esta aparente preparação não passa, na maioria dos casos, de uma postura meramente “discursiva”, ou seja, não envolve preparo sistemático e comportamental.


Como evidência examinemos este anúncio publicado no dia 09 de março de 1982 no Jornal “Gazeta Mercantil”, de São Paulo:


TROCO VIDA TRANQUILA NO MEU SÍTIO POR TRABALHO DURO NA EMPRESA – Tenho 61 anos, independência econômica e uma existência sossegada. Sossegada demais. Cheguei à conclusão que sítio é ótimo nos fins de semana.


Nos outros dias só o trabalho pode completar a minha vida. Claro, há os que não concordam comigo. Talvez porque não tenham uma gratificante experiência de 40 anos, como a minha. Ou a disposição de 20 anos que eu sinto.


A verdade é que eu pretendo embarcar, com toda a minha bagagem, numa empresa que acredite num homem de minha idade. Um homem, inclusive, mais jovem que Reagan, Brejnev, João XXIII e tantos outros que estão na ativa. Sou engenheiro e administrador de empresas. Dos meus 40 anos de experiência, 35 foram vividos num grande grupo multinacional. Ali minha carreira ascendente culminou no cargo de presidente executivo de uma de suas empresas (3.500 funcionários). Posso fornecer currículo detalhado e estou à disposição para contatos pessoais. Cartas para este jornal dirigidas à “D.Volta”.


Uma rápida leitura do anúncio nos permite imaginar quantos não terão sido os sonhos e planos deste alto executivo quando programava sua aposentadoria. Todas estas “fantasias” se desfizeram muito rapidamente no confronto com uma série de atividades que a sociedade não caracteriza como “produtivas”, ou mais ainda, desvinculadas de certos símbolos de “status” que as empresas oferecem.


Evidentemente poderemos encontrar também pessoas para quem o seu trabalho nunca foi o mais importante, ou pior, a sua satisfação maior na vida.


Quem sabe, mesmo o papel profissional foi uma experiência negativa a ponto de terem colocado sempre como necessidade realmente a busca da satisfação em outras atividades. Para estes quem sabe possa ser mais simples o encaminhamento. Mas não o podemos afirmar com segurança, pois estas insatisfações dos períodos anteriores podem não ser totalmente compensadas de uma forma tão repentina através da simples libertação do “castigo” representado pela monotonia ou rotina de trabalho.


Segundo pesquisas feitas em países desenvolvidos, existem três fatores que pesam no sucesso para o encaminhamento de uma aposentadoria mais natural e satisfatória: tranquilidade financeira, educação (no sentido mais amplo da palavra, envolvendo aspectos culturais, intelectuais e capacidade para desfrutar) e saúde. Quando estes fatores estão preenchidos é muito provável que o indivíduo seja relativamente ativo e encontre satisfações nas suas atividades. Evidentemente não falamos apenas de atividades físicas, mas reflexão, recordações, contatos, diálogo, leituras, etc.


O ítem referente a saúde parece claro, pois qualquer disfunção de caráter biológico pode dificultar uma satisfação maior.


Mas é interessante destacar que o aspecto intelectual (a educação no sentido mais amplo e estado permanente) é de grande importância. Ele está diretamente relacionado à capacidade do indivíduo em “aprender a desaprender”.


Será muito tarde para aprender? Pesquisas feitas na França, Inglaterra e Estados Unidos mostram que a capacidade para aprender depende da experiência educacional das fases anteriores.


Aqueles que estiveram sempre envolvidos em processos constantes de aprendizagem terão maior facilidade em reaprender na aposentadoria. Uma das grandes deficiências de nosso sistema educacional é de que as pessoas não são educadas à aprender através da sua própria vida. As estruturas de ensino partem sempre de um esquema onde busca-se um conceito para fixar uma prática.


Raras são as pessoas que examinam a sua prática para extrair dela alguns conceitos e com isto manter um processo de renovação. Esta dificuldade pode ser agravada pela rápida velocidade das mudanças tecnológicas e seu impacto sobre as pessoas. Muitas destas mudanças tem ocorrido numa velocidade maior do que a capacidade dos indivíduos de processarem mudanças comportamentais.


É evidente que quando examinamos todo este quadro dentro da realidade brasileira, devemos tomar maiores cuidados.


Não podemos esquecer as profundas diferenças culturais que existem entre os nossos países. Enquanto na Europa e Estados Unidos a participação ativa na comunidade é um traço comum na vida das pessoas ao longo das diferentes etapas da vida, no Brasil existem estímulos muito maiores (políticos, econômicos, sociais, mercadológicos, etc.) de isolamento. Isto quer dizer que o encaminhamento de muitas dessas pessoas para uma atividade altruísta ou comunitária não se dará com facilidade ou será encarada como solução.


Os caminhos precisam ser pesquisados com base em nossa própria realidade, pois nesta área não se poderá incidir no erro, já cometido no passado, de querer simplesmente importar modelos culturais que foram sucesso em outros sistemas de valores ou ideológicos. Também não é assunto que deverá ser encarado como modismo.


Qualquer atuação que vise facilitar o processo de preparo para a aposentadoria deve ser cuidadoso e multidisciplinar. Está centrado na orientação do auto-desenvolvimento.

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