Dando a volta por cima!

Deborah Toschi • mai. 14, 2017

Como lidar com a perda de uma realidade que fez parte de nós por tantos anos?

Acho que esta é uma das perguntas que transita por diversas vezes em nossa mente quando perdemos o emprego.


Como encarar? Como fazer para construir cada um dos nossos dias sem aquele “script” tão conhecido de cor e salteado? Existe “vida” após tamanha perda e mudança? E como dar a volta por cima após os 50 anos? O que será de mim nesta fase da vida?


A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, autora do livro On Death and Dying, propõe cinco estágios pelos quais pessoas que estão lidando com a perda costumam passar.


Inspirada nestes estágios, escolhi 4 deles. Vejo que quando perdemos esse caminho trilhado por tanto tempo, podemos, de certa forma, passar por fases muito parecidas, afinal não deixa de ser uma perda.


Qual é o seu momento nesta transição? Olhando para cada um dos estágios espero que você os utilize como um bom mapa de reconhecimento, acolhimento e pensamento de mudança.


Minha versão vem com uma pitada de humor, pois ele também será um grande aliado. É muito bom olhar para trás e sorrir lembrando tudo que superamos e aprendemos. Porém, durante o caminho, o que podemos fazer para tornar esse momento o menos pesado possível? Aqui descrevo então os estágios:


  1. Isso não está acontecendo!– Quando a situação acontece é mais do que natural que se tenha dificuldade de aceitar e acreditar que aquele episódio é real. É um grande susto e a gente até pensa que pode ter sido algum mal-entendido ou que isto não está acontecendo. Repetimos e repetimos para fora e para dentro o corrido. Parece um pesadelo, principalmente quando somos pegos de surpresa. Dica: Nesta fase, temos que respeitar nosso sentimento. Chore, desabafe, converse, reflita. Se tem algo que funciona muito é compartilhar a sua dor, decepção com aqueles que você tem confiança. Digo confiança porque nos sentimos às vezes derrotados e não queremos expor esse momento para todos, e não devemos mesmo. Então, se respeite, mas não se isole.
  2. Dias de fúria– Vem aquele sentimento pelo o que aconteceu, uma indignação, um inconformismo e até uma vontade de colocar a boca no trombone. Por que isto está acontecendo comigo?! Como fizeram isto comigo? Quem eles pensam que são para agirem desta forma? Não fizeram com o devido cuidado! Eu tinha ainda muito para contribuir? Dou um baile nessa nova geração! Não encontrarão um substituto com a minha experiência e bagagem! Dica: Deixe fluir, porque de alguma forma quando essa raiva vem temos que colocar para fora. Busque as conversas de confiança, um esporte, e, se for preciso, algum suporte profissional/psicológico. De forma alguma exponha a sua indignação em redes sociais ou outros caminhos que você lá na frente se arrependa. Para algumas pessoas, além das conversas, escrever pode ser um ótimo recurso para expressar a sua emoção. Aos poucos você mudará do ‘por que isto está acontecendo? ’ para se perguntar ‘o que esta mudança pode trazer de bom?’.
  3. Bateu um desânimo– Os dias de maior tristeza, culpa, desesperança, vão acontecer também. Por vezes mais intensos e outros nem tanto, mas têm dias que unir forças para superar isto requer um esforço extra. O preconceito ronda o pensamento. “Agora não tem mais jeito, nesta fase da vida não existem opções. Ninguém vai querer contratar alguém da minha idade. ” Dica: Devemos ficar atentos ao tempo de duração e intensidade desta fase. Sim, o desânimo faz parte, mas não deve ocupar um espaço a ponto de nos travar para a ação. O preconceito existe, mas não impera em todos os lugares. Cada vez mais novos projetos abrem caminhos para a longevidade. Nossa realidade está mudando! Busque ocupar a mente o máximo possível com atividades relaxantes, energizantes, construtivas e criativas. Essa é uma fase chave para começar o processo de combate contra tudo aquilo que vivemos anteriormente.
  4. Dando a volta por cima!– Aqui já olhamos, reconhecemos e acolhemos tudo que este momento nos causou. Agora o fato já está instalado e o movimento de mudança e ação se tornam mais fáceis. Começamos a aceitar a nossa nova fase. Dica: Olhar para fora! Buscar tudo que traga novos ares, conhecimentos, possibilidades e alternativas. Dar continuidade a trajetória profissional não se resume a pensar apenas em um novo emprego, mas sim em trabalho. Pesquise, participe de grupos, aprenda algo novo e converse com pessoas que possam inspirar novos caminhos. Se aos poucos o mercado começa a mostrar novas possibilidades, você também precisará atualizar o seu “aplicativo”, certo?! Mudança de hábitos, de pensamento, de posicionamento profissional e conhecimento tecnológico devem fazer parte desta atualização.


Sempre, sempre mesmo, ganhamos algo quando perdemos (aparentemente) alguma coisa. Não é fácil constatar esses ganhos logo de cara, pois temos nossas etapas e nosso tempo em cada uma delas.

Quando ler este texto veja se você reconhece a sua fase.


Pense o que é possível fazer para que você caminhe para a próxima, até estar pronto para aceitar de fato o seu novo ciclo.


E como dizem mar calmo não faz bom marinheiro, certo?! A superação e reinvenção de nós mesmos trará recursos novos para dentro de nós e para as novas fases que vamos viver.

Sucesso na sua transição!



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