As possibilidades de reinvenção em decorrência da Longevidade

Denise Mazzaferro • 5 de junho de 2016

Aos 17 anos, ganhei do meu pai uma Guia do Estudante para ajudar-me na escolha da minha profissão.

A leitura foi tão angustiante porque simpatizei com psicologia, odontologia e administração. Três profissões tão diferentes e acabei optando por administração. Hoje acho que por forte influência do meu exemplo paterno.


Nessa lembrança duas perguntas me inquietam: Como exigir de um jovem, com tão pouca experiência de vida, que escolha uma profissão? Como dizer para um adulto de 60 anos, com tanta experiência de vida, que não existe outra profissão?


Estamos num momento de questionamentos, de quebra de paradigmas, de reinvenções necessárias para a construção da cultura do Longeviver.


Temos mesmo uma única vocação? Podemos ou não escolher no final da adolescência ser dentistas e aos 50 anos voltar a estudar e nos tornarmos advogados?


Momentos de vida tão diferentes, cheios de novas experiências e aprendizados que precisam permear nossa reinvenção e vocações.


Vislumbrando essas oportunidades a universidade de Stanford recebeu 25 estudantes incomuns em seu campus neste mês – todos na faixa dos 50 ou 60 anos de idade. São os alunos inaugurais de um novo programa, o Instituto para Carreiras Eméritas (Distinguished Careers Institute, ou DCI, na sigla e, inglês), criado para pessoas que desejam seguir mais de uma carreira ao longo de suas vidas e querem voltar a estudar.

“As pessoas vem descobrindo que suas carreiras iniciais podem durar 20 ou 30 anos e que, então, precisam se preparar para novos trabalhos que possam durar mais um par de décadas”.


Como exemplo de um dos maiores casos de sucesso que encontro dentro da ideia de encontrar uma ou mais vocações ao longo da vida, saliento Tomie Ohtake, falecida em 12 de fevereiro de 2015 aos 101 anos.


“Foi uma casualidade, e nada mais, que me fez pintora. Eu já esquecera a minha vocação, e parecia condenada a sucumbir com a rotina do trabalho doméstico, quando veio ao Brasil o grande pintor japonês Sugano’, disse Tomie ao jornal Folha de São Paulo em 1960. Ela se referia a Keiya Sugano (1909 – 1963), que fazia uma exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP).


Em agradecimento à recepção dos imigrantes japoneses, o artista deu aulas de pintura na casa dos Ohtake. Os quadros de Tomie agradaram ao professor, que a incentivou a continuar.


E, assim, aos 39 anos, Tomie começaria a dividir os afazeres domésticos com a arte. ‘Ela advoga, e com ardor, a tese de que uma dona de casa não deve, obrigatoriamente, esquecer que existem outras coisas na vida, diz na reportagem de 1960 do suplemento Folha Feminina, da ‘Folha’.


Marido e filhos tiveram que se adaptar. O “ateliê” era a sala de jantar. No início era um passatempo que resultava em quadros figurativos com paisagens (a maioria da Mooca), retratos e naturezas-mortas. Cerca de dez meses após a chegada de Sugano, Tomie já participava de sua primeria exposição, o 2º. Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia, ao lado de nomes como Luiz Sacilotto (1924-2003), Franz Krajberg e Flávio Shiró.


São histórias como essa e outras que nos desafiam a pensar: Será que o reinventar-nos não é repensarmos àquela vocação que nos parecia eterna? Será que não chega um momento no qual precisamos pensar – qual é o verdadeiro Legado que queremos deixar?


Tomie Ohtake nos deixou um legado de alegrias, beleza e da arte da Reinvenção.

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