As muitas possibilidades de reinvenção

Denise Mazzaferro • 6 de maio de 2019

 Aos 17 anos, um jovem precisa escolher uma carreira para os próximos 48 anos de sua vida. E aos 65 anos, um profissional que se aposenta, ainda com muita vitalidade e até preparo financeiro, se vê diante de mitos como a impossibilidade de trilhar uma nova carreira. Isso é justo?


Um relatório da ONG “New Work Order” aponta que 60% dos jovens em universidades estão estudando para profissões que serão extintas com a automação nos próximos 15 anos. Por outro lado, muitas profissões que estão se consolidando hoje, como Arquiteto de Big Data ou Designer de Interfaces ou Desenvolvedor de Aplicativos para Smartphones, não existiam há 15 anos.


Vivemos um momento de questionamentos, de quebra de paradigmas, de reinvenções necessárias para a construção de uma nova cultura que vai ajudar o ser humano na travessia de vidas cada vez mais longas, que já começam a chegar aos 100 anos.


E se nos aposentamos aos 65 anos, o que fazer nesses 35 anos seguintes?

As pessoas têm mesmo uma única vocação? Já estamos vivenciando casos de pessoas que escolheram estudar para dentista na adolescência, muitas pressionadas pelos pais, e com a chegada da aposentadoria voltaram aos bancos escolares para estudar Direito, Arquitetura, Design de Interiores e até para atividades como Turismo e Assistência Social.


Embora pareçam diferentes, tanto a entrada quanto a saída do mundo profissional são também momentos que proporcionam novas experiências e aprendizados que podem levar as pessoas a se inventar e reinventar.


Vislumbrando esse momento peculiar a universidade de Stanford criou um núcleo de formação em 2016 que recebeu o nome de Instituto para Carreiras Eméritas ou Distinguished Careers Institute.


Sua primeira turma tinha 25 estudantes incomuns, todos com idades entre 50 ou 60 anos. Esse núcleo de formação foi criado para atender pessoas que desejam seguir mais de uma carreira ao longo de suas vidas e querem voltar a estudar. Um fenômeno que vai crescer nos próximos anos.


“As pessoas estão descobrindo que suas carreiras iniciais podem durar 20 ou 30 anos e que, então, precisam se preparar para novos trabalhos que possam durar mais um par de décadas”, explica Phillip Pizzo, Diretor Fundador do Instituto.


Um dos mais significativos exemplos de reinvenção no Brasil é o de Tomie Ohtake, artista plástica de renome internacional falecida em 2015 aos 101 anos.


“Foi uma casualidade, e nada mais, que me fez pintora. Eu já esquecera a minha vocação e parecia condenada a sucumbir com a rotina do trabalho doméstico quando veio ao Brasil o grande pintor japonês Sugano”, contou Tomie ao jornal Folha de S. Paulo em 1960. Ela se referia a Keiya Sugano (1909 – 1963), que veio ao Brasil para uma exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP).


Em agradecimento à recepção dos imigrantes japoneses, o artista deu aulas de pintura na casa dos Ohtake. Os quadros de Tomie agradaram ao professor, que a incentivou a continuar.


E, assim, aos 39 anos, Tomie começaria a dividir os afazeres domésticos com a arte. Segundo a reportagem da época, ela advogava, com ardor, a tese de que uma dona de casa não deve, obrigatoriamente, esquecer que existem outras coisas na vida.


Curiosamente, marido e filhos tiveram que se adaptar. O “ateliê” de Tomie era a sala de jantar. No início era um passatempo que rendia quadros figurativos com paisagens da Mooca, além de retratos e naturezas-mortas. No entanto, cerca de dez meses após a chegada de Sugano, Tomie já participava de sua primeira exposição, o II Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia, ao lado de nomes como Luiz Sacilotto, Franz Krajberg e Flávio Shiró.


Histórias como a de Tomie, além de muitas outras, nos desafiam a pensar sobre aquela vocação que escolhemos na adolescência e que nos parecia eterna. De dona de casa a artista plástica reconhecida no mundo todo. Quer mudança mais significativa do que esta? Será que não chega um momento no qual precisamos considerar qual é o verdadeiro legado que queremos deixar?


Mas repensar toda a nossa trajetória a considerar um novo futuro mesmo aos 60 ou 65 anos não é tarefa fácil e muito menos algo a se tentar sozinho.


É por isso que algumas empresas estão oferecendo a seus colaboradores que chegam a aposentadoria um Programa Pós Carreira, com palestras e dinâmicas que ajudam esses profissionais a se reinventar e a encontrar os novos rumos. E se estamos falando de novas práticas que não existiam até pouco tempo atrás, veja aí mais uma para a nossa relação: preparação para o pós carreira.

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