Rumo ao crescimento centrado nas pessoas

Walter Alves • jul. 03, 2019

Impulsionar o crescimento tem sido visto, tradicionalmente, a melhor forma para criar oportunidades de emprego e elevar a qualidade de vida dos trabalhadores. Agora, no entanto, os governos devem ter outro olhar: ao formarem melhor seus cidadãos para o trabalho os países podem impulsionar mais eficazmente seu crescimento econômico e desenvolvimento.


Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird) revisaram, recentemente, suas previsões de crescimento global para este ano de 2019 e afirmaram que o crescimento está desacelerando na Europa, nos Estados Unidos, na China, no Japão e em outras economias líderes.


Ao mesmo tempo, os líderes políticos e empresariais sabem que precisam preparar melhor as pessoas para um mercado de trabalho numa era de crescente automação, salários estagnados e crescimento de postos para tempo parcial ou temporário.


Estes dois desafios – revigorar o crescimento econômico e preparar as pessoas para o futuro do trabalho – estão ligados, mas não no sentido convencional de que o estímulo macroeconômico ou a melhoria da eficiência constituem a melhor maneira de criar mais oportunidades de emprego e elevar os padrões de vida. A experiência das últimas décadas mostra que o crescimento por si só não é suficiente para reduzir o aumento da desigualdade e da insegurança que acompanham as mudanças no trabalho.


Nesta nova era, os líderes governamentais e empresariais precisam enxergar a relação entre crescimento e mercado de trabalho de um modo inverso: é melhorando seus contratos sociais e instrumentalizando seus cidadãos para navegar no novo mundo do trabalho que os países podem impulsionar com mais eficácia seu crescimento econômico e desenvolvimento.


Esta é a conclusão alcançada por uma Comissão Global independente sobre o futuro do trabalho, organizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e presidida conjuntamente pelo presidente sul-africano Cyril Ramaphosa e pelo primeiro-ministro sueco Stefan Löfven.


A comissão recomendou três medidas práticas – todas envolvendo mais investimento nas pessoas – que os países podem adotar para melhorar a inclusão social e o crescimento econômico simultaneamente. Investir mais nas pessoas pode formar a base de um novo modelo de crescimento e desenvolvimento mais centrado no ser humano.


Em primeiro lugar, os países devem aumentar o investimento público e privado na formação de seus cidadãos – maneira mais certeira de aumentar a produtividade.


Alguns governos cronicamente sub investem na educação de qualidade e no desenvolvimento de competências. Mas os formuladores de políticas em todos os lugares precisam fazer mais à medida que a população envelhece e a automação avança.


Em segundo lugar, os governos, juntamente com as organizações de empregadores e de trabalhadores, devem atualizar as regras e instituições nacionais relacionadas ao trabalho.


Estas influenciam a quantidade e distribuição de oportunidades de trabalho e remuneração e, portanto, o nível de poder de compra e demanda agregada dentro da economia. O diálogo social estruturado, entre trabalhadores e empregadores, deve ser assegurado como um bem público e ativamente promovido por políticas governamentais.


Terceiro, os países devem aumentar o investimento público e incentivar o privado em setores econômicos intensivos em mão-de-obra, gerando benefícios mais amplos para a sociedade. Estes incluem infraestrutura sustentável de água, energia, digital e transporte, setores de assistência, economia rural e educação e treinamento.


Estes três passos constituem uma estratégia para todos os países, independentemente do seu nível de desenvolvimento econômico, para fortalecer tanto a justiça social quanto o crescimento econômico.


No calor da crise financeira de uma década atrás, os líderes dos países do G20 se comprometeram a construir um modelo de crescimento mais equilibrado e sustentável que incorporasse lições dos desequilíbrios econômicos e dos erros políticos do passado.


O mundo, desde então, fez poucos progressos na realização desse objetivo. Mas o caminho que deve ser seguido é claro: investimento sustentado e crescente nas competências das pessoas, garantia do poder de compra e igualdade de oportunidades de emprego.

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