Deixe o piloto automático e viva o aqui e agora: mindfulness

Regiane Bochichi • set. 10, 2020

 

Mindfulness é arte de prestar atenção ao presente momento permitindo se autoconhecer e com isso, ajudando a envelhecer melhor.



Quando nos deparamos com a imagem acima, nos confrontamos com o estereótipo clássico da meditação sentada em posição de lótus, olhos fechados, música relaxante, incensos e velas.


As práticas de exercício da mente podem ser divididas entre formais, as meditações tradicionais e as informais, onde realizamos todas as atividades diárias com mais atenção ao momento presente. Uma acaba complementando a outra.


Por isso, muito consideram que o mindfulness vai além de um tipo de meditação e se torna um estilo de vida.


“A prática de ter atenção plena e estar presente em todas as atividades de nossa vida, quando falamos, lavamos louça, comemos, de uma forma desprendida de julgamento e com estímulos para gerar maior consciência de si mesmo é a base do mindfulness”, explica a facilitadora Cecília Salek.


“Eu era muito crítica comigo quando meditava achando que está fazendo algo errado. O método me fez perceber que não tem uma forma única e que devemos ter muito autocuidado e gentileza com a gente”.


Os primeiros registros das práticas para treinar a mente apareceram nos Vedas, as escrituras sagradas indianas, de cerca de 2 mil a.C.


Depois, veio os ensinamentos de Buda que transmitiam paz e tranquilidade com um simples fechar de olhos. Na década de 70, o biólogo americano Jon Kabat-Zinn teve contato com as filosofias orientais e as incorporou no tratamento de pacientes com doenças crônicas.


O resultado foi tão positivo sendo adotado pela faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts com o nome de Redução do Stress Baseada em Mindfulness (MBSR). Daí em diante, se popularizou apenas com a última palavra, perdeu a aura mística e ganhou o aval da ciência.


Atualmente, uso de mindfulness é apoiado por uma crescente literatura científica, demonstrando mudanças reais nos neurônios após praticar as técnicas.


Essa habilidade cerebral pode ter efeitos benéficos de longo alcance, melhorando a imunidade, a saúde, a vida e a satisfação nos relacionamentos. O mindfulness tem apresentado um potencial de transformar não apenas indivíduos, mas também empresas, escolas, instituições e a sociedade.


Levar essa consciência para o maior número de pessoas se tornou a missão da infectologista Roberta Ribeiro e instrutora de mindfulness formada pela Escola Médica da Universidade de Massachusetts. Como Kabat-Zinn, seu professor e mestre, também teve contato com a meditação nos bancos da faculdade e sempre a utilizou junto com a yoga, a ayurveda, os princípios do budismo, durante os 25 anos que clinicou.


Desde 2018, partiu para uma transição de carreira e passou a se dedicar exclusivamente em divulgar esta ferramenta por meio de podcasting, cursos, workshops, aulas, meditações guiadas. Tudo isso culminou na recém criação de um portal. Seu carro-chefe é o “Mindful moment”, que aborda os pilares e conceitos do método e está disponível também no Spotify.


Durante este período de isolamento social, publicou o “Covid-19 em imersão”, uma breve reflexão sobre a pandemia em formato pocket.


“Meus áudios acabaram ajudando muita gente a enfrentar esse momento atípico. Sempre reforcei a importância de sermos gratos por estarmos aqui e agora”, comenta a médica. “Trazer a atenção para o que vivemos no momento presente mesmo em uma adversidade como a que estamos passando, é uma forma de entrarmos em conexão com que nos anima e nos prepara para enfrentar a vida com paixão, generosidade e gratidão”.


Foi exatamente durante a quarentena que Márcia Regina Oliveira de Souza teve o primeiro contato com o mindfulness. Aos 57 anos, sentiu um aumento brutal na carga de ansiedade.


Percebeu que sua mente oscilava entre um estado ruminativo, com pensamentos persistentes que lhe tiravam a capacidade de concentração no trabalho e prejudicavam a qualidade do seu sono e as projeções no futuro, cheia de expectativas, planos, cenários.


“As sessões guiadas de meditação me tornaram capaz de evitar pensamentos ansiogênicos me concentrando no presente”, relata.


“Aos poucos, tenho sido mais carinhosa comigo mesma, procuro perceber as minhas vivências sem me desgastar com julgamentos, simplesmente registrando-as, deixando-as passar e dispondo-me às próximas percepções. Essa fluidez de pensamentos é mais uma conquista importante da minha maturidade.”


Midfulness e os maturis


Sara Lazar, neurocientista do Hospital Geral de Massachusetts e da Escola de Medicina de Harvard, foi pioneira em comprovar que a meditação e mindfulness produz alterações estruturais no cérebro, assim como retarda a atrofia cerebral relacionada à idade.


Em um estudo de 2005, pode documentar que o córtex, que geralmente encolhe à medida que envelhecemos e compromete a nossa capacidade cognitiva, não apresentou alterações substanciais com o passar dos anos. Foi possível observar que os meditadores com 50 anos de idade apresentaram a mesma quantidade de matéria cinzenta de jovens de 25.


“Hoje, sabemos que vamos viver mais e queremos estar bem para aproveitarmos a nossa maturidade tão duramente conquistada”, relembra a doutora Roberta. “Se temos a possibilidade comprovada cientificamente de mantermos o foco, a mente ativa, reforçar nossa memória porque não vamos nos dedicar a isso? Ainda mais que de maneira simples: apenas observando o que em mim vive e pulsa”.


Para Maria Francisca Mauro, psiquiatra e psicanalista, mestre pela UFRJ, é imprescindível respeitar a individualidade no que concerne ao nível de vida ativa e faixa etária que pertence para se direcionar a melhor linha técnica.


“Deve-se enfatizar que idosos com uma vida intelectualmente ativa, apresentarão necessidades diferentes daqueles com algum prejuízo cognitivo ou mesmo quadro demencial. Assim como os com quadros de depressão, ansiedade ou outro transtorno psiquiátrico de base, devem ter estas condições colocadas em perspectiva para que o direcionamento das sessões de mindfulness possam ser uma ferramenta de auxílio em seus tratamentos.”


Além disso, ela salienta que meditação é uma ferramenta para o autoconhecimento já que estabelece uma maior atenção para o seu fluxo de pensamentos e as suas sensações corporais, principalmente seu controle respiratório.


“Neste sentido, a prática mindfulness, beneficia a expansão da consciência, faz perceber o que passa dentro de você e no ambiente ao seu redor. É um convite para sair do piloto automático”, reforça a instrutora Cecília.


Respirar e dar aquela sacudida na nossa vida não tem hora e nem idade para começar, mas, às vezes precisa de um empurrãozinho para se tornar um hábito que tal agora?


Conheça as 9 atitudes de quem pratica o mindfulness

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