Porque contratar trabalhadores 50+

Walter Alves • out. 18, 2019

Fala-se muito em preconceito de gênero, preconceito racial ou mesmo preconceito da condição física ou sensorial no trabalho, mas um dos maiores e mais problemático que enfrentamos talvez seja o preconceito etário: geralmente avaliamos as pessoas pela sua idade, e isso está se tornando um grande limitante para as organizações.


Há alguns anos, numa pesquisa feita para a Deloitte, foi perguntado para cerca de 10.000 empresas: “A idade é uma vantagem competitiva ou uma desvantagem competitiva em sua organização?” A resposta não surpreendeu. Mais de dois terços das empresas consideraram a idade avançada uma desvantagem competitiva.


Isso é consistente com os dados da American Association of Retired Persons (AARP) que mostram que dois terços dos indivíduos entre 45 e 74 anos já sofreram discriminação etária no trabalho.

Em outras palavras, as pessoas mais velhas são consideradas menos capazes de se adaptar a novos contextos ou menos dispostas a arregaçar as mangas e fazer algo novo, o oposto de como são vistos seus colegas mais jovens.


Muito tem sido escrito sobre isso, afinal a força de trabalho está envelhecendo. Prevê-se que, em 2020, as pessoas com 60 anos ou mais superem em número as crianças com menos de cinco anos e, em 2025, esperamos que 25% dos trabalhadores nos EUA e no Reino Unido tenham mais de 55 anos.


Na verdade, esta faixa etária de trabalhadores é a que mais cresce em quase todos os países. Nos EUA, as vagas de emprego superam os candidatos desde 2018. Isso ocorre, em grande parte, pelo fato de os baby boomers se aposentarem mais rapidamente do que a geração do milênio consegue entrar em seu lugar.


Por que isso está acontecendo?


Há duas tendências demográficas claras. Primeiro, e isso devemos celebrar, estamos vivendo mais. Segundo, os jovens têm menos filhos e as taxas de fertilidade diminuem em todo o mundo industrializado.


Qual é a solução?


As empresas devem trazer os idosos de volta para empregos significativos e importantes. O mito propagado é que pessoas, com mais de 65 anos, devem se aposentar para aproveitar os “anos dourados” com viagens ou à beira da piscina.


No entanto, as pesquisas mostram que as pessoas que se aposentam e param de trabalhar, geralmente, sofrem de depressão, têm ataques cardíacos e padecem de um mal-estar geral.


Muitas pessoas, principalmente aquelas que tiveram longas e significativas carreiras, gostam de trabalhar. Tiveram a oportunidade de mostrar seu valor aos outros e à comunidade, construíram uma rede de amigos e parceiros. Por que, então, este desejo de aposentar se amamos trabalhar?


Há pessoas 60+ engajadas em suas carreiras e evitando a aposentadoria. Aos 89 anos, Warren Buffett ainda é considerado um dos cérebros mais brilhantes no mundo das finanças, e Charlie Munger, seu braço direito, tem 95. Aos 61, Madonna é a rainha indiscutível do pop. Aos 81, Jane Fonda é imensamente prolífica em sua carreira como atriz e também como ativista.


Os exemplos sugerem que idade não é limitante para o trabalho. Ao contrário da crença popular, as pessoas mais velhas são os empreendedores de maior sucesso. As com mais de 40 anos têm três vezes mais chances de criar empresas de sucesso como resultado de sua natureza paciente e colaborativa e da falta de “necessidade de provar algo a si mesmo”.


O que as empresas ganham com trabalhadores 50+?


As carreiras, e os sistemas de remuneração, de recrutamento, seleção e avaliação foram projetados para a não contratação de pessoas mais velhas. Muitas empresas acreditam que as pessoas mais velhas “recebem altos salários” e podem ser “substituídas por trabalhadores mais jovens”. Grande parte da mídia glorifica a juventude em detrimento dos idosos.


As evidências científicas sobre esse assunto, entretanto, mostram o contrário: para a maioria das pessoas, a potência mental diminui após os 30 anos, mas o conhecimento e a experiência – duas das principais características de desempenho no trabalho – continuam aumentando mesmo após os 80 anos. Quando se trata de aprender coisas novas, simplesmente, não há limite de idade.


Além maturidade emocional e da competência que os funcionários mais velhos trazem para o trabalho, há a questão da diversidade cognitiva. Poucas coisas de valor já foram realizadas por indivíduos que trabalham sozinhos. A grande maioria de nossos avanços – seja nas ciências, negócios, artes ou esportes – é resultado de pessoas trabalhando juntas.


A melhor maneira de maximizar a produção de uma equipe é aumentar a diversidade cognitiva, que se consegue com pessoas de diferentes idades e experiências trabalhando juntas.


Como superar a discriminação etária?


Veja como as empresas precisam agir:


  • Contrate idosos para funções que lhes permitam usar seus conhecimentos. É possível fazer isso sem, necessariamente, oferecer salários mais altos e não cair na tentação de substituí-los por jovens “mais baratos”.
  • Preocupe-se com a ergonomia. Ofereça estações de trabalho acessíveis que atendam as necessidades das pessoas com deficiência e de todas as idades.
  • Analise a equidade salarial por função e nível. Remuneração deve ser em função de experiência e competências que agreguem valor à empresa. As pessoas idosas iniciantes numa função aceitam ganhar menos do que uma pessoa mais jovem.
  • Inclua a diversidade etária em seus programas de Diversidade e Inclusão. Um estudo da Deloitte mostrou que as equipes com participantes de idades variadas sentem-se mais segurança psicológica do que as com idade homogênea.
  • Atribua funções de gestão e de mentoria aos funcionários mais velhos. Essas posições permitirão que eles aproveitem de seu conhecimento, sua experiência e para praticar suas competências pessoais.
  • Recrute e selecione pessoas idosas. Convide-as a voltar ao trabalho após a aposentadoria e conte histórias daquelas que tiveram sucesso na empresa. Empresas como Boeing, Bank of America, Walgreens, GM e outras agora convidam trabalhadores mais velhos a voltar.
  • Forme as pessoas responsáveis pelo recrutamento e seleção para que elas evitem a discriminação etária. Isso inclui o combate ao preconceito inconsciente. Hoje, há várias denúncias nas redes sociais – e isto é péssimo para as empresas – de trabalhadores mais velhos que descobrem que estão sendo excluídos dos processos de seleção por discriminação etária.
  • Monte programas de mentoria reversa. Mostre aos jovens como eles podem ajudar as pessoas idosas a desenvolverem competências técnicas, a si mesmos a desenvolverem competências pessoais e ainda combaterem a discriminação etária.


À medida que o mundo envelhece, a discriminação etária se tornará uma questão mais importante. Inclua os termos “longevidade” e “maturidade” em suas estratégias de bem-estar, diversidade e inclusão e recrutamento e seleção.


Lembre-se de que muitas pessoas – não importa sua idade – não têm dinheiro suficiente para se aposentar (mesmo que quisessem). Não há idade para as pessoas sentirem-se motivadas para o trabalho. Se uma empresa cria uma experiência inclusiva, justa e significativa para funcionários de quaisquer idade, descobrirá a possibilidade de tornar-se mais inovadora, envolvente e lucrativa além de beneficiar toda a sociedade.


Compartilhe esse conteúdo

Artigos recentes

Por Contato Maturi 20 mar., 2024
Ser mulher, para mim, é ter muita curiosidade sobre o que é ser homem. Eu sei o que é ter privilégios em um país tão desigual, sei o que é ser branca, ser pessoa sem deficiência e ter intactas as faculdades mentais. O único fator social privilegiado que não conheço é o de ser homem. Só me cabe imaginar. Imaginar o que é ter segurança ao sair de casa sem camisa, de short apertado sem medo da sombra, sem ficar olhando 360 graus para antecipar algum perigo à distância, não ser atacada por olhares invasivos. Como é que deve ser passar por um grupo de homens desconhecidos, juntos numa esquina, e não ter certeza que vão olhar para sua bunda? Como deve ser se juntar com amigos numa esquina à tarde e olhar ostensivamente para bundas que passam? Eu não sei como é sair de casa de dia, em um lugar tranquilo, com a plena segurança de que consegue se defender? Como deve ser nem ter essa preocupação diária. Ir para o trabalho sabendo que pode alcançar cargos de diretor, presidente, gerente, sem se preocupar com barreiras invisíveis e, por isso, intransponíveis. Como deve ser passar a juventude sem medo de engravidar? Não ter qualquer outro plano submetido à maternidade. Não ter ansiedade sobre a dor do parto, algo equivalente à sensação de 20 ossos quebrados todos de uma só vez? Não correr o risco de ter a vida e o corpo implacavelmente alterados por, no mínimo, um ano, independentemente de sua vontade. Algo que pode acontecer apenas porque a natureza quer e deve-se estar alerta aos seus desígnios, sem arbítrio sobre o corpo, a não ser que cometa um crime. Eu não quero dar a entender que a maternidade é ruim, eu adoro ser mãe e há mulheres tristes por não poderem ser. É que eu fico curiosa para saber o que é nem ter esse tipo de preocupação na vida, mensalmente. E esperar feliz a menstruação, algumas vezes acompanhada de dores equivalentes a um infarto. No caso, a hemorragia é externa e junta-se a ela a aflição com calças brancas, estoque de absorventes, datas de viagens à praia e atenção redobrada para não matar algum ser vivo. Fora agir de maneira a ninguém notar que isso tudo está acontecendo. O desejo não acaba com a idade, assim como a curiosidade. Será que a um homem acontece de, em quase toda interação com uma mulher desconhecida, avaliar se está ou não propondo intimidade por atos, palavras ou sinais? Vou dar um exemplo: será que um homem vai fazer as unhas e fica preocupado se a calça está apertada e a podóloga vai se sentir convidada a apalpar seu pênis? Será que um grupo de homens em viagem de carro, que precisem parar à noite em um posto de gasolina suspeito, depois de segurar por quilômetros o xixi, ficam com medo do frentista agarrá-los à força? É esse tipo de coisa que eu queria muito saber. Você pode dizer que, a essa altura da minha vida, eu já sei boa parte do que pergunto. Sim, mulheres da minha idade são objetos de pouca atenção, e a mesma natureza esfrega na nossa cara a indiferença. E é por esse motivo que nem posso saborear o entendimento, já que lido com toda a transformação de uma segunda adolescência. Ao contrário. O turbilhão hormonal acontece de novo, com alterações involuntárias desgastantes, no sentido exato da palavra. Ossos, articulações, cabelos, pele desgastados. Como deve ser a andropausa? Será que ela obriga o homem a se equilibrar entre a tristeza no olhar que vê no espelho e a desonrosa saudade do olhar de desejo dos outros? Não quero diminuir a tensão que envolve o papel dos homens na dança do acasalamento humano; mas será que esse jogo acaba para o homem do mesmo jeito que para a mulher? Porque para nós, antes do fim, o capitão do time te coloca no banco do nada. E você passa de artilheira para gandula, depois de cansar de ficar esperando alguém lhe dar bola. É muito melhor quando são eles que não dão mais conta de jogar e param, não antes de realizar uma última partida festiva com amigos convidados e mulheres na arquibancada, que ainda vão dizer que estão todos bem de cabelo branco. Toda esta minha curiosidade sem fim (diferente deste texto) fica, obviamente, dentro de uma limitação cisgênero e geracional. Pode ser que as jovens de agora não tenham nenhuma dessas perguntas, mas duvido que não tenham outras. E imagino que a mulher atual, com todas as suas manifestações e bandeiras, tenha ainda assim aguçada uma característica que, independentemente de ser um substantivo feminino, une os gêneros. Se existe algo realmente igualitário é a curiosidade.
Por Contato Maturi 15 mar., 2024
No mês em que celebramos a força, a resiliência e as conquistas das mulheres em todo o mundo, é crucial lembrarmos que a jornada da mulher não tem um ponto final aos 40, 50, 60 anos ou mais. Pelo contrário, é uma jornada contínua de crescimento, aprendizado e contribuição, independentemente da idade. Na Maturi, reconhecemos a importância de valorizar e empoderar as mulheres maduras, que trazem consigo uma riqueza de experiência, sabedoria e habilidades únicas. Neste mês da mulher, queremos destacar o papel vital que as mulheres maduras desempenham no mercado de trabalho e a sua potência ainda pouco explorada nos diferentes ecossistemas profissionais. No entanto, quando se fala em Dia Internacional da Mulher, além dos eventos comemorativos ao longo do mês (#8M) pouco se discute sobre a intergeracionalidade das mulheres como um diferencial. Sabe por que? Um dos grandes motivos é a falta de repertório. A Maturi vem tropicalizando nos últimos anos ( saiba mais ) uma data relevante do mês de abril: o Dia Europeu de Solidariedade entre Gerações. É um mês pouco explorado no Calendário da Diversidade de forma geral e que tem total conexão com as estratégias de educar e letrar as pessoas sobre o tema. Qual é a contribuição dos diferentes grupos identitários e de diferentes faixas etárias no ambiente profissional? A diversidade geracional traz uma variedade de perspectivas, ideias e abordagens que enriquecem qualquer equipe ou empresa. Em um mundo em constante mudança, onde a tecnologia e as práticas de trabalho evoluem rapidamente, a colaboração entre as gerações é fator crítico de sucesso. As mulheres maduras têm um papel fundamental a desempenhar nesse processo de colaboração, oferecendo não apenas sua experiência profissional, mas também sua capacidade de adaptação e resiliência. No entanto, ainda há desafios a serem superados. Muitas vezes, as mulheres maduras enfrentam maior discriminação no mercado de trabalho do que homens 50+. Um exemplo disso é que, segundo o estudo sobre Etarismo que a Maturi e EY lançaram em 2023, 32% das mulheres que responderam ao levantamento estavam desempregadas há mais de 1 ano enquanto os homens representavam 20%. Já parou para pensar que a interseccionalidade se torna mais cruel para os grupos subrepresentados? Ao comemorar o mês da mulher, te convidamos a refletir sobre o papel crucial das mulheres maduras em suas equipes e a considerarem como podem promover uma cultura de inclusão e colaboração intergeracional. Não se esqueça que essa celebração não pode ocorrer 1x por ano, ou seja, somente no calendário que o mercado reconheça. Recomendamos, fortemente, que inclua o mês de Abril em seu planejamento como um possível mês que represente o pilar de gerações. #valorizeaidade #mulheresmaduras #mulheres50+ #8M #longevidade #maturidade #mesdasmulheres #diversidadeetaria #intergeracionalidade #combateaoetarismo
27 fev., 2024
Entre escolhas e redescobertas, a jornada de transformação da vida pela escrita aos 55
Share by: