Geração de maturis LGBTQIA+ derrubou barreiras

Regiane Bochichi • jun. 21, 2021

O meetup do mês de junho vai discutir a “Interseccionalidade: Desafios e Oportunidades da gestão de pessoas LGBTQIA+ 50+” com uma ótica do profissional e do líder de RH.


Era mais uma sessão de cinema on-line dentre as atividades oferecidas pela ONG EternamenteSOU que atua em prol das pessoas idosas LGBTQIA+.


O filme escolhido, o documentário “A Morte e Vida de Marsha P. Johnson”. Travesti e drag queen, conhecida pela luta a favor da libertação gay, Johnson foi uma das personalidades proeminentes da Rebelião de Stonewall, em 1969.


O voluntário Edson Lopes havia estudado e levantado fatos históricos para conduzir uma conversa após a sessão.


Afinal, a repressão policial e os consequentes motins que aconteceram em 28 de junho, no bar Stonewall Inn, localizado no bairro de Greenwich Village, em Nova York, são lembrados no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ e em atividades durante todo o mês.


Ao abrir os microfones para a participação, qual não foi a sua surpresa ao encontrar um casal de participantes que estavam lá e relataram o que vivenciaram.


“Tudo o que tinha preparado ficou meio frio ao ouvir os depoimentos de quem estava nas ruas, fazendo a história”, comenta o líder de RH da associação. “Percebi o quanto é importante a idade que nos traz essa sabedoria. Esta geração que estava na linha de frente, abriu as portas para a conquistas que temos dentro da comunidade”.


Além de militante, Edson Lopes é responsável por DEI, desenvolvimento de liderança e Learning para Américas na Yara Fertilizantes. Ele participa junto com Luís Baron, vice-presidente da mesma ONG, do meetup promovido pela Maturi,  “Interseccionalidade: Desafios e Oportunidades da gestão de pessoas LGBTQIA+ 50+” que acontece no 30 de junho, às 9 horas.


“É um recorte pouco explorado. Todo mundo envelhece e todo mundo esquece isso. Quando a gente fala de grupos minorizados nas empresas, o gap é maior ainda”, comenta a head comercial da Maturi, Andrea Tenuta. “Vamos trazer dois olhares para aprofundarmos este tema: um do ponto de vista profissional e outro mais pessoal. Ambos ativistas da causa.”


Lopes desenvolveu sua carreira em multinacionais como Votorantim Cimentos, Western Union, UHG, Yara na áreas de Inclusão e Diversidade, Desenvolvimento Organizacional, Desenvolvimento de Liderança, Cultura e outras projetos voltados para People Strategy.


Quando começou a falar do tema, tinha que bater na porta, encontrar um espacinho nas agendas, ir procurando espaços para além do obrigatoriedade de cotas que a legislação trabalhista impunha, como no caso dos PCDs.


Os ventos mudaram a favor. Pela sua experiência, acredita que o DEI saiu daquela zona de assistencialismo e entrou de vez na agenda do CEO como ferramenta para potencializar os negócios.


Segundo ele, “pesquisas indicam aumento de renda, retorno de inovação e agrega valor em todo a cadeia. Não importa se será topdown ou a contrário. Devemos potencializar o engajamento de onde ele vem. Pois atende um desejo da sociedade e quem não atender esta demanda pode ficar inclusive sem clientes em um futuro bem próximo.”


Aliás, já é um realidade. Hoje, no momento da compra, 88% das empresas brasileiras preferem fazer negócios com companhias que tenham a diversidade como um pilar essencial. É o que aponta a edição 2021 do relatório “O Cenário de Vendas no Brasil”, promovido pelo LinkedIn.


A maioria dos vendedores ouvida pela estudo está convencida de que uma diversidade maior gera benefícios competitivos: para 53%, ter uma equipe de vendas diversa ajuda a atingir as metas; para 57%, ajuda a se conectarem com uma base de clientes mais diversa e aprimora a cultura interna; e para 51%, gera melhores ideias, mais inovação e abordagens menos convencionais.


Dois terços das equipes de vendas já investiram em treinamentos sobre diversidade para seus gestores, quase o mesmo número desenvolveu programas de mentoria e processos de integração criados para promover um senso de pertencimento.


A Yara Fertilizantes que conta com mais de 15 mil colaboradores, com operação em 60 países, atua aqui no Brasil em cinco vertentes: LGBTQIA+, etnia/raça, PCD, geracional e equidade de gênero sendo uma das signatárias dos compromissos da ONU Mulheres.


“Gosto muito de pegar o pulso do momento. Que horas são? O que está acontecendo agora? O que percebo que estamos uma época com seis gerações convivem juntas.


Isto traz um conhecimento, habilidade, criatividade de trabalhar juntos que só pode fazer bem ao ambiente de negócio”, comenta Lopes.


Tanto que está expandindo dos muros das companhias para associações, fóruns, entidades de classe. Ele próprio é vice-líder do Comitê de Diversidade e Inclusão da Câmara de Comércio Brasil – Noruega.


Ponto de vista pessoal


Saindo da visão macro e entrando para o cotidiano, “é fundamental entender a velhice não como algo terrível, mas inexorável”, aconselha Luís Baron. “Vejo a vida como o rio, todos vamos desaguar para o mar. Então aceita, que doí menos.”


O Brasil viveu, nas últimas décadas, o fenômeno chamado de bônus demográfico: uma conjuntura de pirâmide etária em que o número de pessoas economicamente ativas (a parte central da figura) é superior ao de idosos (ponta) e crianças (base). De acordo com o Atlas das Juventudes, esta tendência está se invertendo. O País tem, atualmente, cerca de 25% de jovens e, em 2060, o percentual deve cair para 15%.


A fim de atender parte desta população que pertence a comunidade LGBTQIA+ foi criada em 2017, na cidade de São Paulo, a ONG EternamenteSOU para dar suporte, favorecer a inclusão social, protagonismo, proporcionando uma velhice digna e ativa, além da garantia de direitos humanos e promoção da cidadania, da qual Baron é vice-presidente.


Ele coordena várias atividades. Entre elas: as duas lives diárias que mantêm desde o início da pandemia, como a citada acima, computando mais 620 horas ao vivo; a edição de um livro com narrativas de pessoas 50+ que pertencem ao grupo LGBTQIAP+ ; o núcleo de saúde onde existe o apadrinhamento para acompanhamento e acolhimento daqueles que precisam de cuidados especiais e a elaboração de uma cartilha de profissionais de saúde para lidar com idosos.


Além disso, no intuito de promover o bem-estar e autoestima das pessoas LGBTQIA+ velhas, lançou, em 2019, o “Topassado”, presente no Instagram, Facebook e Youtube.


Com 61, homem cis e gay, é pai de Gabriel, um adolescente adotado junto com a irmã. Com uma base familiar bastante forte e estruturada, sabe que é uma exceção. “A maior parte da pessoas chega a velhice e se encontra sozinho. Pois, quando assumiu a sua sexualidade, deve que abandonar o convívio familiar. A rede de apoio foi formado por amigos que também estão velhos”, relata.” Muitos tem que voltar para o armário para ter quem cuide deles”.


Esta é a segunda pandemia que atravessa. Baron é soropositivo há 34 anos. Aprendeu a conviver com o HIV com acompanhamento médico e, sequer, transmite o vírus.


A sua geração passou por momentos de repressão e liberação. O movimento LGBTQIA+ teve seu início no Brasil durante o regime militar, na década de 1970.


Durante os anos de 1980, o grupo teve que deixar de lado a pauta da liberdade sexual em razão do surgimento da Aids, que atingiu com ainda mais força os homossexuais, para atuar em projetos de combate à doença. “É uma ferida existencial enorme com um efeito devastador na saúde física e emocional da minha geração”, frisa o comerciante de obras de arte.


Um estudo publicado em abril na revista científica The Lancet HIV, afirma que expectativa de vida entre adultos que vivem com HIV e recebem medicamentos antirretrovirais (ARV) na América Latina e no Caribe aumentou expressivamente desde 2003. Subiu para 61,2 anos nos países caribenhos e para 69,5 anos na América Latina.


“É muito mais complicado ser velho do que soropositivo, ainda mais no Brasil onde os critérios estéticos são muito fortes”, desabafa Baron. “ O preconceito só cresce pois ninguém quer se ver espelhado. Trabalhar para que as pessoas velhas LGBTQIA+ tenham uma vida digna e feliz é o que me move.”


Quem quiser contribuir para a ONG EternamenteSOU pode participar com doações financeiras, com trabalho voluntário e projetos. Empresas podem contribuir mensalmente por meio de um crowdfunding. Este mês, estão lançando uma campanha para a inserção dos assistidos no mercado de trabalho que terá o apoio da Maturi.


Além deste meetup, a Maturi está oferecendo para as empresas palestras de conscientização com as seguintes temáticas:


  • interseccionalidade: Desafios e Oportunidades da gestão de pessoas LGBTQIA+ 50+;
  • vieses Inconscientes: como combatê-lo nas empresas com os grupos LGBTQIA+ 50+;
  • etarismo e LGBTIfobia nas empresas.

SERVIÇO


MEETUP: Interseccionalidade: Desafios e Oportunidades da gestão de pessoas LGBTQIAP+ 50+


DATA: 30 de junho


HORÁRIO: às 9 horas.



INSCRIÇÕES: maturi.in/meetupmaturi


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