10 reflexões de quem procura liberdade, simplicidade e diversão

Regiane Bochichi • mai. 18, 2020

 

“Sou um traficante de LSD”. É assim que se apresenta José Bueno. “Quero, com minha experiência, levar uma mensagem para que tenhamos uma vida livre, simples e divertida”.


Não é fácil rotular esse arquiteto de formação, que tem se ocupado em formar lideranças, implantar sistemas de aprendizagem intergeracional e de empoderamento criativo de comunidades com influenciador, professor, palestrante, facilitador, educado, intermediador.


Seu cartão de visitas não leva títulos e traz a imagem de uma ponte conectando as margens de um rio. É assim que se sente e que leva a suas múltiplas atividades profissionais.


“Gosto de muita coisa. Arte, esporte, arquitetura, neurociência, ciclismo, natureza, filosofia, música entre outros tantos assuntos. Me interesso por aprender, mas sempre com leveza e afeto. Sou um homem em constante processo de realização”.


Quase chegando aos 60, criou em parceria com o publicitário Mauro Sato, o 5070 para explorar o potencial criativo e empreendedor da fase de vida entre pessoas nesta faixa etária. Com encontros presenciais, reuniu grupos em várias cidades como São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Lisboa e Porto. Hoje, o projeto está em banho-maria.


Professor de Aikido, fechou no começo de maio, o Dojo Harmonia, espaço aberto em 1994 que acabou se tornando um centro cultural. “Estou vivendo um estado de luto mas o dojo vai além de um lugar físico, é um campo de energia que levamos para a vida”. Agora, está experimentando o mundo online. Mesmo sendo um homem que gosta de estar com gente, tem aberto na sua agenda uma reunião no Zoom, três vezes por semana para praticar o ouvir e o olhar. Os temas são abertos, assim como seus interesses.


“Abrimos com uma pergunta e depois deixamos fluir a conversa”, comenta. “Cada dia aparece um passarinho pousando no galho e vamos levando”. Foi assim também a entrevista dele com a equipe da Maturi de quase duas horas. De galho em galho, de tema em tema, instiga reflexões e mudanças que podemos fazer em nossas vida. Veja abaixo os trechos que selecionamos.


Pausa 


Estamos vivendo um momento de freada brusca. Saímos da correria e de repente, a loucura parou. A pausa deve servir para perguntarmos enfim: para onde estava indo? Quem estava ao meu lado? Olhar de fato para a nossa vida social, para o sistemas que não estavam funcionando.


E o melhor método é aquele usado pelos Alcoólatras Anônimos: reconhecer a dependência do que não vai bem para podermos mudarmos. O que estamos fazendo? Como estamos vivendo? 


Temos de encontrar nossa equação pessoal do que fazer com o tempo.


Mudança


Mudança é difícil de ser consolidada. Quem não era sensível, solidário, não vai mudar. O corpo gosta da constância.


Quem sempre comeu carne, é muito complicado virar vegetariano. A gente tem que ser influenciado a mudar e isso requer constância, volume. É uma espécie de conversão. Mudar completamente suas crenças, convicções, propósitos. Isso só acontece quando você tem a sensação que não dá mais.


Modo de vida


Tenho um modo de vida que defino como “free style”. Sempre fui empreendedor. Nunca tive chefe, funcionário, carteira de trabalho. Tenho um lema que me move que é o seguinte: faço o que posso pelo que me importa.


Quero ser genuíno. Aos 60 anos, sou um homem em processo de realização. Quero uma vida sem tensão e sem stress. Esses fatores são produzidos internamente pela gente mesmo, pela forma de se posicionar perante a vida. Temos de ser vigilantes o tempo todo para não sermos engolidos por eles-


Foco


A máxima que devemos focar é uma estrada perigosa. Não dá para ser fiel em uma coisa só, pois depois que ela acaba o que fazemos? Tenho interesses em diversas áreas.


Me vejo como um grande quebra-cabeça. Junto umas pecinhas e aparece um nuvem. Outras assinalam uma graminha. Com o tempo, vai surgindo uma imagem, única, singular que pode até inspirar outras pessoas.


Bem-estar

São três coisas que me fazem saudável: arte, natureza e criança. Preciso estar perto delas todos os dias. Criança eu só tenho uma neta de 3 anos, mas me contento com minha companhia.


Mantenho vivo meu olhar infantil para as coisas, com atividades lúdicas, que me faz brincar. Essa é a minha equação pessoal para o meu bem-estar. Cada um deve encontrar a sua. Meu desafio hoje é dar 10 respostas para um problema. Assim treino a percepção. Acredito que a mesma que criatividade me trouxe até aqui vai me levar para frente,


Aikido


O Aikido é muito relacional. Como eu! O treino consiste em estabelecer harmonia e resiliência com o outro. É uma arte milenar que te ensina a levar uma situação impossível para o possível. Do possível para o fácil e do fácil para uma situação elegante.


Só que isso requer muita disciplina. É um escolha e um estilo de vida, um modo de se posicionar no mundo pede regularidade. Não se faz seis meses e pronto.


Propósito


O propósito acaba indo ao seu encontro. O meu, eu descobri quando entrei na FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Na fila da matrícula, encontrei o senhor Rimas, o bedel da escola. Estava preocupado se teria alguma taxa e ele me disse: “nem o giz, você vai gastar. Pessoas lá fora vão pagar para você estudar”.


Isso me fez cair a ficha que teria de devolver a comunidade que me bancou para eu ter acesso ao conhecimento, professores, ensinamentos, técnicas, aulas magnas. Por isso, meus projetos, enquanto estudava lá, era sempre voltado para as favelas. Isso é o propósito: servir o outro.


Aptidão


Na FAU, topei com uma professora, Renina Katz, famosa peguei em um pincel e olha que amava desenhar. Foi um dos motivos que escolhi fazer arquitetura. Até que 15 anos depois, em uma livraria conheci a pintura japonesa sumiê.


Fiz três anos de aula usando as aptidões que tinha: observar e acompanhar a mestra. Hoje, sou das artes. Faço aquarelas, capas de livros, ilustrações. Estou tendo aula agora com modelos vivos. Não dá para desistir do que gosta, apenas porque ouviu uma crítica ruim.


Encontros 


Sou um homem de encontros. Fiz as reuniões 5070 em todo o Brasil porque me identificava com o público. Meu sócio, Mauro Sato queria me transformar em um produto digital, mas eu sou de gente, Aos 50, fiz uma viagem de bicicleta de Amsterdam a Munique que chamei de “Rumo as 100”. Mas isso ainda está longe para mim e, então, fechei esse nicho.


Os 50 foi o início do meu lado B. Pude explorar ainda mais meu potencial criativo. A sociedade acabou e me vi fazendo tudo sozinho. Então, dei uma parada.


Era a minha contribuição para essa faixa dos 60, de poder dividir minha estória e entregar o conteúdo que carreguei até aqui. Mas na verdade, a faixa etária não diz nada. Cada um tem sua estória. Seu universo particular. Depende muito do que cada um viveu. Não acredito muito em segmentos. Acho que a conexão tem que se dar em todas as faixas etárias, gêneros e raças. Tudo junto e misturado.


Zoomcomzé


São reuniões que faço 3 vezes por semana com público diverso onde perguntamos como você já indo e com que está caminhando e daí as conversas fluem.


Não tem nenhuma pré-condição. É só chegar. É um momento para gerar reflexão, onde se pode transgredir o isolamento. Ver qual é o mood do dia e falar sobre negócios, política, doença, sem censura e sem nenhuma pretensão de querer ajudar.


Pratico o exercício da escuta e do olhar. Isso mantém a minha saúde profissional. Sempre tive uma alma colaborativa, empática. 


Para participar, use o link https://zoom.us/j/526338769.

Compartilhe esse conteúdo

Artigos recentes

Por Contato Maturi 12 abr., 2024
Alguns anos atrás, começamos a provocar o mercado com a seguinte pergunta: “Por que não tropicalizar a comemoração do Dia Europeu da Solidariedade e Cooperação entre Gerações (29 de abril)?” Agora, chegou o momento da ação: convocar as empresas que pautam suas ações de ESG no calendário da Diversidade, direcionado pelas datas comemorativas, a instituir um período para ter como “o mês de Gerações”. As datas comemorativas são celebradas porque carregam um contexto histórico e cultural significativo. Com a consolidação dos dias e meses através do calendário, tornou-se natural celebrar o passar do tempo. No entanto, mais importante do que apenas marcar essas datas, é refletir sobre o seu significado profundo… Realizar ações apenas em datas específicas do calendário de diversidade não torna uma empresa verdadeiramente diversa, equitativa e inclusiva. Contudo, integrar ações nessas datas também garante uma comunicação coesa de que a empresa está comprometida com a promoção de uma cultura inclusiva para todas as pessoas. A dica é de ouro: você tem duas oportunidades excelentes para isso! - Abril : Por conta do Dia Europeu da Solidariedade e Cooperação entre Gerações (29 de abril), que pode servir como uma excelente oportunidade para iniciar discussões e projetos focados na integração intergeracional. - Outubro : Este mês é marcado por duas datas significativas que tratam da intergeracionalidade: o Dia Internacional da Pessoa Idosa (1º de outubro) e o Dia das Crianças (12 de outubro), além do Dia da Menopausa (18 de outubro). Inserção: Reflexão sobre Dados e Estatísticas Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, a população mundial de pessoas com 60 anos ou mais está projetada para dobrar de 12% para 22% entre 2015 e 2050. Isso destaca a necessidade urgente de políticas e práticas que não apenas acomodem, mas também integrem esses indivíduos na força de trabalho. Quando falamos de 50+, no Brasil, segundo o IBGE, já são mais de 56 milhões de pessoas (censo 2022), ou seja, 27% da população atual do país. Em 2040, a FGV estima que metade da força de trabalho do Brasil já seja 50+. Queremos ajudar e encorajar as organizações a refletirem sobre suas políticas e práticas de recrutamento, desenvolvimento e retenção de talentos, garantindo que estejam abertas a todas as idades e que valorizem a diversidade geracional. É possível criar um futuro onde a colaboração entre gerações não seja apenas uma ideia, mas sim uma realidade nos diferentes ambientes de trabalho. Portanto, vamos celebrar o Mês da Integração Intergeracional como um catalisador para a promoção dessa importante causa.
Por Contato Maturi 20 mar., 2024
Ser mulher, para mim, é ter muita curiosidade sobre o que é ser homem. Eu sei o que é ter privilégios em um país tão desigual, sei o que é ser branca, ser pessoa sem deficiência e ter intactas as faculdades mentais. O único fator social privilegiado que não conheço é o de ser homem. Só me cabe imaginar. Imaginar o que é ter segurança ao sair de casa sem camisa, de short apertado sem medo da sombra, sem ficar olhando 360 graus para antecipar algum perigo à distância, não ser atacada por olhares invasivos. Como é que deve ser passar por um grupo de homens desconhecidos, juntos numa esquina, e não ter certeza que vão olhar para sua bunda? Como deve ser se juntar com amigos numa esquina à tarde e olhar ostensivamente para bundas que passam? Eu não sei como é sair de casa de dia, em um lugar tranquilo, com a plena segurança de que consegue se defender? Como deve ser nem ter essa preocupação diária. Ir para o trabalho sabendo que pode alcançar cargos de diretor, presidente, gerente, sem se preocupar com barreiras invisíveis e, por isso, intransponíveis. Como deve ser passar a juventude sem medo de engravidar? Não ter qualquer outro plano submetido à maternidade. Não ter ansiedade sobre a dor do parto, algo equivalente à sensação de 20 ossos quebrados todos de uma só vez? Não correr o risco de ter a vida e o corpo implacavelmente alterados por, no mínimo, um ano, independentemente de sua vontade. Algo que pode acontecer apenas porque a natureza quer e deve-se estar alerta aos seus desígnios, sem arbítrio sobre o corpo, a não ser que cometa um crime. Eu não quero dar a entender que a maternidade é ruim, eu adoro ser mãe e há mulheres tristes por não poderem ser. É que eu fico curiosa para saber o que é nem ter esse tipo de preocupação na vida, mensalmente. E esperar feliz a menstruação, algumas vezes acompanhada de dores equivalentes a um infarto. No caso, a hemorragia é externa e junta-se a ela a aflição com calças brancas, estoque de absorventes, datas de viagens à praia e atenção redobrada para não matar algum ser vivo. Fora agir de maneira a ninguém notar que isso tudo está acontecendo. O desejo não acaba com a idade, assim como a curiosidade. Será que a um homem acontece de, em quase toda interação com uma mulher desconhecida, avaliar se está ou não propondo intimidade por atos, palavras ou sinais? Vou dar um exemplo: será que um homem vai fazer as unhas e fica preocupado se a calça está apertada e a podóloga vai se sentir convidada a apalpar seu pênis? Será que um grupo de homens em viagem de carro, que precisem parar à noite em um posto de gasolina suspeito, depois de segurar por quilômetros o xixi, ficam com medo do frentista agarrá-los à força? É esse tipo de coisa que eu queria muito saber. Você pode dizer que, a essa altura da minha vida, eu já sei boa parte do que pergunto. Sim, mulheres da minha idade são objetos de pouca atenção, e a mesma natureza esfrega na nossa cara a indiferença. E é por esse motivo que nem posso saborear o entendimento, já que lido com toda a transformação de uma segunda adolescência. Ao contrário. O turbilhão hormonal acontece de novo, com alterações involuntárias desgastantes, no sentido exato da palavra. Ossos, articulações, cabelos, pele desgastados. Como deve ser a andropausa? Será que ela obriga o homem a se equilibrar entre a tristeza no olhar que vê no espelho e a desonrosa saudade do olhar de desejo dos outros? Não quero diminuir a tensão que envolve o papel dos homens na dança do acasalamento humano; mas será que esse jogo acaba para o homem do mesmo jeito que para a mulher? Porque para nós, antes do fim, o capitão do time te coloca no banco do nada. E você passa de artilheira para gandula, depois de cansar de ficar esperando alguém lhe dar bola. É muito melhor quando são eles que não dão mais conta de jogar e param, não antes de realizar uma última partida festiva com amigos convidados e mulheres na arquibancada, que ainda vão dizer que estão todos bem de cabelo branco. Toda esta minha curiosidade sem fim (diferente deste texto) fica, obviamente, dentro de uma limitação cisgênero e geracional. Pode ser que as jovens de agora não tenham nenhuma dessas perguntas, mas duvido que não tenham outras. E imagino que a mulher atual, com todas as suas manifestações e bandeiras, tenha ainda assim aguçada uma característica que, independentemente de ser um substantivo feminino, une os gêneros. Se existe algo realmente igualitário é a curiosidade.
Por Contato Maturi 15 mar., 2024
No mês em que celebramos a força, a resiliência e as conquistas das mulheres em todo o mundo, é crucial lembrarmos que a jornada da mulher não tem um ponto final aos 40, 50, 60 anos ou mais. Pelo contrário, é uma jornada contínua de crescimento, aprendizado e contribuição, independentemente da idade. Na Maturi, reconhecemos a importância de valorizar e empoderar as mulheres maduras, que trazem consigo uma riqueza de experiência, sabedoria e habilidades únicas. Neste mês da mulher, queremos destacar o papel vital que as mulheres maduras desempenham no mercado de trabalho e a sua potência ainda pouco explorada nos diferentes ecossistemas profissionais. No entanto, quando se fala em Dia Internacional da Mulher, além dos eventos comemorativos ao longo do mês (#8M) pouco se discute sobre a intergeracionalidade das mulheres como um diferencial. Sabe por que? Um dos grandes motivos é a falta de repertório. A Maturi vem tropicalizando nos últimos anos ( saiba mais ) uma data relevante do mês de abril: o Dia Europeu de Solidariedade entre Gerações. É um mês pouco explorado no Calendário da Diversidade de forma geral e que tem total conexão com as estratégias de educar e letrar as pessoas sobre o tema. Qual é a contribuição dos diferentes grupos identitários e de diferentes faixas etárias no ambiente profissional? A diversidade geracional traz uma variedade de perspectivas, ideias e abordagens que enriquecem qualquer equipe ou empresa. Em um mundo em constante mudança, onde a tecnologia e as práticas de trabalho evoluem rapidamente, a colaboração entre as gerações é fator crítico de sucesso. As mulheres maduras têm um papel fundamental a desempenhar nesse processo de colaboração, oferecendo não apenas sua experiência profissional, mas também sua capacidade de adaptação e resiliência. No entanto, ainda há desafios a serem superados. Muitas vezes, as mulheres maduras enfrentam maior discriminação no mercado de trabalho do que homens 50+. Um exemplo disso é que, segundo o estudo sobre Etarismo que a Maturi e EY lançaram em 2023, 32% das mulheres que responderam ao levantamento estavam desempregadas há mais de 1 ano enquanto os homens representavam 20%. Já parou para pensar que a interseccionalidade se torna mais cruel para os grupos subrepresentados? Ao comemorar o mês da mulher, te convidamos a refletir sobre o papel crucial das mulheres maduras em suas equipes e a considerarem como podem promover uma cultura de inclusão e colaboração intergeracional. Não se esqueça que essa celebração não pode ocorrer 1x por ano, ou seja, somente no calendário que o mercado reconheça. Recomendamos, fortemente, que inclua o mês de Abril em seu planejamento como um possível mês que represente o pilar de gerações. #valorizeaidade #mulheresmaduras #mulheres50+ #8M #longevidade #maturidade #mesdasmulheres #diversidadeetaria #intergeracionalidade #combateaoetarismo
Share by: