O executivo brasileiro não se prepara para o pós-carreira

Renato Bernhoeft • jul. 30, 2018

A cada dia que passa aumenta o número de executivos brasileiros que, após uma brilhante carreira profissional, sucumbem ao ostracismo a que são relegados quando chegam à época da aposentadoria.


Acostumados a toda uma corte que os cerca em decorrência do cargo que ocupam, tornam-se dependentes de uma forte identidade organizacional que os impede de desenvolver uma identidade pessoal.


Seu valor está centrado na realização profissional, e quando se tornam mais um “ex” diretor, presidente ou algo parecido, percebem, tardiamente, de que todo prestígio não era efetivamente seu, mas apenas do cargo que representavam.


No momento em que as empresas passam a preocupar-se com a renovação de seus quadros gerenciais delineando um perfil mais “empreendedor”, muitos executivos começam a defrontar-se com o dilema do que fazer no chamado período do “Pós-Carreira”.


Muitos destes modelos que estimularam nas empresas a busca do sucesso, descuidaram de desenvolver, além de uma carreira brilhante em nível profissional, um planejamento de vida coerente com suas expectativas para esta nova fase. Outros, só agora percebem que o preço pago pelo sucesso (fracassos conjugais, familiares e até mesmo de auto realização) não valeu a pena.


Por esta razão começa a ganhar corpo nas empresas o programa de preparação de executivos para o Pós-Carreira.


Ao longo dos últimos trinta anos tenho acompanhado dezenas de executivos que chegam às vésperas da aposentadoria sem um preparo para esta nova e importante fase de sua existência.


A maioria são casos de profissionais que em algum momento das suas vidas abriram mão de realizações pessoais ou familiares, para se dedicarem a uma carreira profissional que os projetasse no mundo dos negócios. Muitos, inclusive, adiaram para um futuro incerto todos seus planos de desfrutar a vida, pressupondo que o sucesso no mundo da organização seria suficiente para satisfazê-los integralmente.


Esquecem estes executivos que as organizações prosseguem e que os níveis de exigência do mercado se alteram, apresentando, permanentemente, novos desafios, o que os coloca, frente a situações de obsolescência ou mesmo de esgotamento profissional.


Assim como o artista, jogador de futebol ou político não estão preparados para o ostracismo, nossos executivos sofrem do mesmo problema.


Ao longo de sua carreira esqueceram de estabelecer critérios de equilíbrio entre sucesso profissional e qualidade de vida pessoal.


Mais ainda, concentraram todas suas fontes de realização nos símbolos decorrentes do sucesso empresarial, descuidando de desenvolver outras identidades além do seu prestigioso sobrenome organizacional. A tardia descoberta deste fenômeno pode ter implicações graves sobre a auto-estima destes “ex-executivos” de tal ou qual empresa.


O telefone deixou de tocar, os amigos se afastaram, os brindes já não aparecem, da mesma maneira que os convites para as recepções escassearam. Estes são apenas alguns sintomas. Outro mais grave é o que fazer com o tempo disponível, que em outras épocas foi motivo de muitos planos e de adiamento dos projetos de desfrute da vida.


Consciente deste novo fenômeno em nossa sociedade, algumas empresas já estão trabalhando o assunto em duas frentes que são fundamentais.


No plano mais imediato existe uma necessidade de preparar os velhos executivos para um processo de afastamento gradativo e o menos traumático possível.


Esta atividade pressupõe um programa com duração variável entre três e dois anos. Envolve reuniões, entrevistas de orientação, palestras desenvolvendo alternativas sobre o que fazer no futuro, que é concluído com a elaboração de um projeto de vida para esta nova etapa.


O pressuposto é de que o executivo não poderá parar de trabalhar, mas precisa encontrar um novo interesse que mantenha sua auto-estima atendida e evite uma dolorosa permanência na empresa.


O segundo processo envolve o preparo dos jovens executivos. A empresa começa a entender que não é suficiente o desenvolvimento de um brilhante plano de carreiras que permita apenas uma ascensão permanente.


O foco agora deve estar centrado na idéia de que devemos preparar processos de planejamento de vida e carreira.


A realização profissional é diretamente proporcional aos níveis de satisfação da vida pessoal. De nada serve um perfil de sucesso fulminante do executivo que para tanto estraçalhou sua vida conjugal, familiar e até mesmo pessoal.


Torna-se indispensável para o sucesso dos executivos do futuro, um saudável equilíbrio entre a sua capacidade de trabalhar e desfrutar.


Este resultado terá efeito direto sobre a sua produtividade e condição de enfrentar exigências cada vez maiores. Na mesma medida que as organizações enfrentam um mercado mais competitivo em decorrência de uma economia mais internacional.


Uma vez mais se aplica aqui o que temos dito sempre. As soluções para estes desafios não poderão ser copiadas de outros modelos ou realidades.


Cada empresa deverá encontrar rumos próprios de acordo com o seu momento e sua realidade. Não existem receitas prontas, mas sim um desafio que exige soluções realistas

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