A maneira como encaramos a aposentadoria vai se transformar rapidamente

Contato Maturi • mai. 05, 2016

Quem está no mercado hoje não vai mais parar depois de certa idade. As mudanças na qualidade e na expectativa de vida devem transformar por completo, num futuro próximo, a concepção de trabalho.


por Paulo Germano, do Zero Hora


Esqueça aquele velhinho recluso, sentado o dia todo em frente à TV, descansando por 20 anos após uma vida dura de trabalho: ele está em extinção.


Até a palavra “aposentado” perderá sentido – em sua origem, ela identifica aquele que vai para o quarto, para os aposentos. “Retired”, em inglês, é aquele que se retira. Agora veja o que diz o consultor Sidnei Oliveira, autor do livro Jovens para Sempre: Como Entender o Conflito de Gerações:


– Quem hoje tem 35, 40 anos, não vai parar de trabalhar antes dos 80.


E, depois dos 80, não vai se contentar com a tevezinha na saleta. A primeira causa da transformação da velhice é demográfica. Há três décadas, um jovem que iniciava sua carreira aos 20 anos tinha uma expectativa de vida inferior a 65 anos.


Que dizer, ele trabalharia 35 anos para se aposentar aos 55 – depois, desfrutaria uma década de repouso antes da morte. Portanto, era bom correr: uma carreira estável e um rápido crescimento profissional garantiriam o sustento dos filhos e uma herança para deixar. Na teoria, um belo plano.


Só que esse mesmo jovem, hoje cinquentão, testemunhou um avanço sem precedentes da ciência e da medicina. E viu sua própria expectativa de vida disparar. Agora, ele acredita que viverá até uns 80 e, com tanto tempo pela frente, não será possível viver apenas da renda da aposentadoria – até porque seus filhos, ao contrário do que houve na geração anterior, não conquistaram ainda a independência financeira.


– Esses filhos olham para os pais, que cresceram nesse modelo que previa trabalho por 35 anos com descanso no final, e percebem que ninguém está descansando – afirma Sidnei Oliveira. – Eles percebem,

intuitivamente, que não adianta mais correr para construir tudo em três décadas, como seus pais fizeram. No fundo, já entendem que precisarão trabalhar até a idade dos seus avós. Porque, quando tiverem 50 anos, a expectativa de vida será de 90.


Obviamente, previdência nenhuma vai aguentar. Um reflexo disso foi a assinatura, no mês passado, de uma nova lei que rege a aposentadoria. Pelo novo dispositivo, o tempo de contribuição do trabalhador é somado à sua idade para o cálculo do recebimento integral. Quem quiser, pode optar pelo fator previdenciário, que continua valendo. A lei é apresentada como resposta ao previsto colapso do sistema, já que, no futuro, pode resultar no aumento do tempo trabalhado por quem busca o benefício integral.


O embrião desse fenômeno já se percebe: entre os anos 2000 e 2010, o número de estudantes universitários com mais de 50 anos cresceu 182%. Há cada vez mais profissionais experientes buscando qualificação para desenhar uma nova carreira e prosseguir no mercado de trabalho. Mas quando, enfim, eles vão descansar?


– Os que hoje têm 50 anos dificilmente vão parar antes dos 70. Só que ainda vão aproveitar os últimos suspiros do sistema previdenciário, que logo entrará em colapso – projeta o consultor Sidnei Oliveira. – Já os jovens com menos de 30 anos, esses viverão uma mecânica completamente diferente: em vez de trabalhar, trabalhar, trabalhar e depois descansar, eles vão trabalhar e descansar, trabalhar e descansar, trabalhar e descansar.


Ou seja: haverá uma popularização do período sabático. A ideia de correr para garantir o crescimento profissional e a construção de um patrimônio em apenas três décadas de trabalho perderá o sentido, segundo Sidnei. Com a expectativa de vida ultrapassando os 90 anos, com a fragmentação das carreiras e com a previdência social em colapso, será comum juntar dinheiro para aproveitar os sabores da existência entre um emprego e outro.


– Aquela ideia de que só é possível descansar no fim da vida vai desaparecer. Porque ninguém mais trabalhará apenas 35 anos. Serão 60 ou 70 anos de labuta – diz Sidnei.

Um desdobramento disso é o que o professor Marcos Troyjo chama de “velhice empreendedora”. Ao contrário das gerações anteriores, quando o ambiente profissional (o escritório) e o ambiente familiar (a residência) eram bem delimitados, as novas tecnologias já começaram a misturar tudo – qualquer um trabalha com um computador ou um celular em casa. Essa agitação, essa impressão de que é impossível desligar-se do mundo, extinguirá a imagem do velhinho que passa o dia em frente à TV.


– E produzirá uma geração de idosos que, acostumados com uma rotina intensa e impedidos de se aposentar, tocarão em casa seus próprios negócios – afirma Marcos Troyjo.


– Já se percebe, na sociedade contemporânea, uma tendência à indiferenciação entre pais e filhos ou velhos e jovens. Antes, as mudanças de valores e comportamentos demoravam uma geração inteira para ocorrer. Hoje, novas práticas são incorporadas o tempo todo. E os jovens pensam que sabem tudo, pensam que não há ensinamento algum que um idoso possa lhe oferecer.


Ninguém quer ser velho, resume o ex-ministro Renato Janine Ribeiro, também filósofo da USP. E é possível, mesmo, que ninguém mais seja. Se hoje já existem pessoas como Silvio Santos, que completou 85 neste fim de semana, mas ninguém pensa em chamar de senhor, como serão os octogenários daqui a três décadas?



– Com o progresso da ciência, de fato, teremos a impressão de que a morte será um acidente, não um resultado da velhice. Veja os Rolling Stones, por exemplo. Eles estão dizendo: “Não vamos ficar velhos. Um dia, vamos só morrer.” – conclui o consultor Sidnei Oliveira.



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