Cooperativa: uma alternativa para formalizar seu trabalho

Ricardo Pessoa • 20 de maio de 2016

 
Tenho 56 anos, e praticamente toda a minha vida profissional fui empresário. Ser fundador de uma cooperativa era a última coisa que imaginei ser na vida.


Estou certo que muitos têm uma percepção sobre essa forma de organização parecida com a que eu tinha. A ideia não combina com a minha formação (soa como um palavrão para um leitor de Ayn Rand), sem contar com a má fama de gerar questões trabalhistas.


Mudei minha opinião com o que aprendi com a fundação da Egrégora Inteligência, uma cooperativa multidisciplinar de profissionais sêniors das áreas de TI, Marketing Digital e de Negócios, formada para prestar serviços de consultoria.


Queria compartilhar minha experiência, pois talvez ela possa lhe ser útil. Cooperativas são especialmente interessantes nestes tempos de economia compartilhada e trabalho flexível, e podem ser uma alternativa para formalizar sua relação de trabalho.

Abrir uma PJ ou uma Cooperativa?

A solução mais usual para o trabalho acima dos 40 anos é abrir uma empresa, tornar-se uma PJ (pessoa jurídica).


Mas isto nem sempre é possível ou interessante.


Muitos de nós se sentem desconfortáveis com a ideia de ter uma empresa, seja porque nunca empreenderam, seja por experiências passadas ruins. O Brasil não é exatamente um país amigo do empreendedorismo, e quem já abriu ou fechou uma empresa aqui sabe bem do que estou falando. A burocracia intimida, e os riscos fiscais e tributários não são pequenos.


Por outro lado, a contratação formal também tem suas dificuldades, pois as empresas resistem à contratação CLT, tanto pelos custos diretos da legislação trabalhista, quanto pelos indiretos, como o aumento de sinistralidade em seus planos de saúde.


Uma cooperativa representa um meio caminho entre o emprego formal e a abertura de uma empresa.

Como em uma PJ, uma cooperativa formaliza a relação de trabalho entre você e seus clientes. Pode emitir as notas fiscais para seu trabalho, seja este em alocações pontuais ou prolongadas, sempre de uma forma legal e contabilmente correta.


Como em um emprego CLT, a cooperativa pode dar benefícios a seus membros, semelhantes ao emprego formal. Ela pode contratar planos de saúde, seguros e acesso a crédito a custos de planos corporativos.


Diferente de uma PJ ou de um emprego formal, uma cooperativa é mais simples no desligamento. Deixar uma cooperativa é um processo bem simples, e infinitamente mais fácil que fechar uma empresa ou um processo de demissão.


Mas existem diferenças importantes ente a PJ e a cooperativa. As principais são:


Tributação


Uma cooperativa possui benefícios fiscais, como a isenção do IRPJ, que reduz significativamente sua carga tributária.


Mas essa vantagem não se traduz diretamente em menor tributação de seus ganhos.


Como uma PJ, se você retira seus rendimentos como lucro, a tributação de IR é exclusiva na pessoa jurídica, e é geralmente bem menor que a tributação na pessoa física. O valor da previdência incide sobre o pró-labore e não sobre as retiradas feitas como lucro, o que torna o valor a recolher uma decisão sua.


Em uma cooperativa, a tributação na pessoa jurídica é menor, mas os rendimentos dos cooperados recolhem IR e INSS como em um emprego formal.


A conta tem de ser feita para cada caso, mas em geral uma coisa acaba compensando a outra.


No entanto, é importante notar que a isenção das cooperativas só se dá para atos cooperados, ou seja, realizados por cooperados. Se a cooperativa contrata serviços ou produtos de terceiros, sobre estes incidem uma tributação normal, como em uma PJ, devendo ser contabilizados (e taxados) como em uma empresa usual.


Estatuto e Governança


Em uma cooperativa, todos são sócios, e solidários em direitos e deveres. O seu estatuto (equivalente ao contrato social de uma empresa) rege sua atuação, cargos, votações e decisões.


O estatuto deve ser assinado por todos os membros fundadores, e deve atender a exigências legais, como a necessidade de estabelecer assembleias anuais, de ter uma diretoria e um conselho fiscal independente. Como consequência destes cargos, são necessários pelo menos 7 membros fundadores para a criação da cooperativa.


Mas, além disso, a liberdade é grande para definir onde e como atuar, tanto quanto na constituição de uma empresa comum.


Custos


A operação de uma cooperativa funciona como uma empresa, podendo ter sede física, bens, equipamentos, etc.


É necessária uma contabilidade que tenha experiência no ramo, mas os custos dessa contabilidade são os mesmos de uma PJ, com a vantagem de serem compartilhados por todos os membros.


Geralmente se institui uma taxa de manutenção (para o pagamento dos custos fixos) e parcela-se o capital social, reduzindo-se o dispêndio mensal para os associados.


Na Egrégora,por exemplo, a taxa de manutenção é de R$ 150,00 e a integralização do capital é parcelada em 20 prestações de R$ 50,00.


Fundos e destinações compulsórias


Uma cooperativa não visa lucro.


Sobras de caixa apuradas (o equivalente ao lucro das PJ’s) podem ser divididas entre os membros, deduzidas  destinações compulsórias para fundos de capacitação e treinamento dos cooperados, em geral em torno de 10%.


Alguns fundos são exigência legal, mas há liberdade para constituir outros, por decisão dos cooperados.


Onde se informar


Se você se interessou pelo modelo, e quer avaliar se ele funciona para você, o primeiro passo é procurar a SEESCOOP de seu estado.


As SESCOOP proveem inúmeros serviços de consultoria, apoio e treinamento às cooperativas, sempre gratuitos ou a taxas irrisórias.


Estes serviços podem facilitar e muito a criação e operação de uma cooperativa, além de ajudar você a avaliar e cumprir corretamente todos requisitos legais.


Além disso, as SEESCOOP promovem integrações entre as cooperativas, o que pode facilitar e muito o acesso a serviços como crédito, seguro e planos de saúde.


Por fim


Sei que cooperativas não são o bálsamo universal. Mas, analisando friamente como uma forma de operação de negócios no Brasil, tem vantagens competitivas que merecem uma avaliação mais detalhada, despidas de preconceitos.


No nosso caso, as vantagens da cooperativa superaram o esforço para criá-la. Somos 11 membros, e iniciamos nossa operação comercial.


Nosso estatuto permite a entrada de novos membros a qualquer tempo e hora, mas estabelecemos um processo de aprovação que nos garante que novos cooperados compartilhem nossa visão em termos de senioridade, qualidade e competência.


Um ponto a ter em mente é que cooperativas são democráticas (o lema é “Um Homem – Um Voto) e esta democracia pode ser um complicador para a tomada de decisão.


Mas, nos tempos de crise que enfrentamos, as cooperativas podem ser uma alternativa mais simples para você se recolocar no mercado de trabalho.


Espero que lhe seja útil.


Se tiver dúvidas, envie suas perguntas nos comentários abaixo que terei prazer em ajudar!

Compartilhe esse conteúdo

Artigos recentes

Como o Grupo Boticário e a Maturi criaram um projeto para posicionar a marca como um dos maiores ali
11 de dezembro de 2025
Como o Grupo Boticário e a Maturi criaram um projeto para posicionar a marca como um dos maiores aliados das mulheres maduras do Brasil
11 de novembro de 2025
O etarismo no ambiente de trabalho pode ser sutil — e, justamente por isso, perigoso. Muitas vezes, ele está embutido em processos, linguagens e práticas que parecem neutras, mas que na prática excluem profissionais mais velhos. O prejuízo não se limita a quem é deixado de fora, mas às empresas, que perdem talento, diversidade e performance. Segundo o relatório Future of Work 2023 , da AARP (American Association of Retired Persons), 2 a cada 3 profissionais 50+ já sentiram discriminação por idade no trabalho. No Brasil, a Pesquisa Maturi (2023 - acesse aqui ) mostra que 9 em cada 10 profissionais maduros estão em busca de recolocação. “Enquanto o tema for abordado como um posicionamento de marca, dificilmente haverá uma transformação genuína na sociedade. Porém, nós entendemos que esse esforço não pode caminhar sozinho pelo setor privado, é necessário que o governo e a sociedade estejam na mesma direção”, comenta Mórris Litvak, CEO e fundador da Maturi. Está na hora de rever práticas e criar ambientes mais inclusivos para todas as idades. A seguir, um checklist para você identificar se o etarismo ainda está presente na sua organização: Checklist: sua empresa está pronta para incluir talentos 50+? 1. Recrutamento e seleção: - Você analisa se profissionais 50+ estão chegando às suas shortlists? - As descrições de vaga evitam termos como “jovem talento”, “recém-formado” ou “perfil júnior”? - O RH considera profissionais maduros para cargos operacionais e estratégicos? 2. Cultura organizacional: - O tema da diversidade etária está incluído nas ações de DEI? - A comunicação interna retrata pessoas de diferentes idades em cargos de liderança? - Existem canais para denunciar qualquer tipo de discriminação? 3. Desenvolvimento e carreira: - Pessoas 50+ têm acesso a programas de formação, capacitação e mentoring? - A empresa promove ações para combater estereótipos sobre envelhecimento? - Há incentivo à troca intergeracional e à valorização da experiência? 4. Gestão de talentos e sucessão: - Profissionais maduros são considerados em planos de sucessão? - Existe um olhar estratégico para manter 50+ na ativa, inclusive com formatos híbridos ou carga horária flexível? 5. Preparação para aposentadoria: - Sua empresa tem programas voltados à transição e à preparação para aposentadoria? - Há políticas para que esse momento não represente exclusão, mas sim reorientação? Passando a limpo Se sua empresa respondeu “não” ou “não sei” para um ou mais itens, já é sinal de alerta. O etarismo estrutural pode estar presente e impactando diretamente a diversidade, a inovação e os resultados da sua equipe. O combate ao etarismo não começa só com treinamentos, mas com uma mudança de mentalidade nos processos mais básicos do RH. Trata-se de enxergar a idade como um ativo estratégico e não como um impeditivo. Já conhece a certificação Age Friendly? O selo Age Friendly Employer reconhece as empresas promotoras da diversidade etária. Atualmente são 19 empresas certificadas no Brasil, organizações que estão na vanguarda das melhores práticas para um ambiente inclusivo para pessoas 50+. Se a sua empresa quer entender como iniciar essa jornada e obter a Certificação Age-Friendly, preencha o formulário para agendar uma reunião com a nossa equipe.
4 de novembro de 2025
O último MeetupMaturi de 2025 reuniu duas empresas que vêm se destacando na pauta da diversidade etária: Sanofi e Volkswagen . Representadas por Alexandre Porto, Co-líder do grupo Gerações Conectadas da Volkswagen, e Elcio Monteiro, do Pilar de Gerações+ da Sanofi, as organizações compartilharam suas jornadas no processo de Certificação Age-Friendly Employer, mostrando, na prática, o que significa transformar a cultura organizacional em direção a um ambiente realmente multigeracional. O encontro revelou aprendizados valiosos sobre como as empresas podem evoluir em seus roadmaps age-friendly — da conscientização à implementação de ações concretas. A seguir, reunimos cinco grandes insights dessa conversa inspiradora. 1. A jornada começa conhecendo a realidade geracional da organização Antes de qualquer estratégia, é essencial conhecer a própria realidade geracional. A Volkswagen percebeu que o primeiro passo para se certificar era entender quem são seus colaboradores 50+, onde estão as oportunidades e quais áreas precisavam se envolver mais com o tema. "O primeiro passo é saber onde estamos e com quem estamos. A diversidade etária começa olhando para dentro" 2. Ser uma empresa age-friendly é assumir um compromisso público A Certificação Age-Friendly Employer não é apenas um selo — é um compromisso público de avanço contínuo. Como destacou a Volkswagen, o mais importante é demonstrar, de forma transparente, como a empresa reconhece e valoriza o protagonismo das diferentes gerações. "Mais do que conquistar a certificação, é mantê-la viva no cotidiano da empresa” 3. O que importa é evoluir: a recertificação mede progresso, não perfeição A Sanofi, primeira empresa certificada e recertificada no Brasil, destacou que o processo é uma oportunidade para comparar a empresa com ela mesma. A cada recertificação, é possível medir avanços, consolidar práticas e aprimorar o que ainda precisa evoluir. “A recertificação é sobre amadurecimento — ela reconhece quem continua aprendendo.”, Elcio Monteiro 4. Trocas entre empresas aceleram aprendizados Um dos diferenciais do ecossistema Age-Friendly é o espaço de trocas entre empresas certificadas. Durante os fóruns e encontros promovidos pela Maturi, companhias como Sanofi e Volkswagen compartilham experiências, desafios e soluções. Essa colaboração tem gerado novos programas, ideias e conexões que fortalecem toda a rede. “Quando as empresas trocam, todo o ecossistema evolui” 5. Diversidade etária é parte da estratégia, não um projeto paralelo Tornar-se uma empresa Age-Friendly não é sobre um programa pontual, mas sobre incorporar a longevidade como valor estratégico. Como reforçou a Sanofi, uma empresa verdadeiramente diversa é aquela que reflete a sociedade onde está inserida — em idade, gênero, raça e experiências. “A diversidade precisa estar integrada à estratégia, não isolada em um pilar” O encontro com Sanofi e Volkswagen mostrou que o caminho para a maturidade corporativa é feito de aprendizado, comprometimento e cooperação. Cada empresa está em uma etapa diferente do seu roadmap Age-Friendly, mas todas compartilham o mesmo propósito: criar organizações mais humanas, inclusivas e preparadas para o futuro do trabalho. 💡 Quer saber mais sobre a Certificação Age-Friendly e como aplicar esse roadmap na sua empresa? 👉 Acesse agefriendly.com.br